Restando ainda pouco mais de um ano para o fim do mandato, é impressionante e vergonhoso constatar que não restam esperanças de que algum avanço substancial para a sociedade brasileira seja conquistado por mérito do atual governo federal. Ao assumir o Palácio do Planalto em 2019, Jair Bolsonaro representava — sem qualquer merecimento histórico, mas por algum equívoco que a psiquiatria ainda tentará explicar — os anseios de transformação de um Estado inchado e ineficiente em uma nação próspera e pujante. Quase três anos depois, o que se viu, no entanto, foi a repetição em série de ministros perdidos na Esplanada (vide o caso da Educação) e a fabricação de conflitos institucionais que testam a resistência dos pilares da jovem democracia do país. As necessárias e urgentes reformas administrativa e tributária pouco avançaram e os grandes projetos de modernização da infraestrutura parecem esquecidos.
Enquanto os privilégios e os supersalários das castas políticas e do alto escalão do funcionalismo público persistem em sugar os sacrificantes recursos oferecidos pelos contribuintes brasileiros, o presidente virou as costas para essa realidade e preferiu eleger quimeras para enfrentar, em defesa de uma suposta liberdade para o povo. Se tivesse dedicado o mesmo entusiasmo para buscar soluções e encarar os reais problemas que assolam o país, talvez não estivéssemos agora à beira de uma crise energética sem precedentes. Mas faltam inteligência e boa vontade para perceber que não bastaria um amplo programa de incentivo à energia solar, transformando o maior número possível de telhados em micro-usinas geradoras interligadas à rede, como também prevenir e combater as crescentes queimadas em todos os biomas do país — especialmente no cerrado, na Amazônia e no pantanal —, favorecendo assim o regular regime de chuvas. Mas isso é esperar demais daqueles que rechaçam a ciência.
E não se culpe a pandemia pelo fracasso do Executivo nacional. Intercorrências desafiam todos os tipos de gestores e, justamente nas adversidades, os mais aptos comprovam a capacidade de ocupar a cadeira que lhes foi reservada.
Resta, no momento, a expectativa de até quando a temerária poesia poderá apaziguar os ânimos no país, enquanto se aguarda a retomada de pautas estruturantes para o Brasil, que carece urgentemente de geração de empregos; educação de qualidade, com crianças nas salas de aula; contenção da inflação, pois ninguém suporta gasolina beirando R$ 7; preservação e restauração ambiental, que oferecerão segurança climática, hídrica e alimentar; entre tantos outros temas como saúde e combate à criminalidade. É menos cloroquina e fuzil. E mais bom senso e competência para o Brasil.
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