OPINIÃO

Literalmente Zizinho

Marcos Paulo Lima
postado em 18/09/2021 06:00

Thomaz Soares da Silva, o Zizinho, faria 100 anos no último dia 14. Obviamente, não o vi jogar. Conheço Mestre Ziza da literatura, nas crônicas de Nelson Rodrigues. Uma delas descreve o camisa 8 do Brasil na Copa de 1950, revelado pelo Flamengo e com passagem por Bangu e São Paulo, com uma riqueza de detalhes e adjetivos impressionantes.

Em 3 de dezembro de 1955, Nelson Rodrigues publicou na extinta Manchete Esportiva, reproduzida nas páginas 11 e 12 do livro À sombra das Chuteiras Imortais, o texto “O craque sem idade”. Ele tratava de um concerto de Zizinho na vitória do Brasil por 3 x 0 contra o Paraguai, no Maracanã. Mestre Ziza fez dois gols e deu uma assistência para Escurinho. Ziza mudou o jogo depois de um “lírico, um platônico 0 x 0 no primeiro tempo” nas palavras do ilustre torcedor tricolor.

Nelson Rodrigues lembra que Zizinho jogava no Bangu à época e entrou no início do segundo tempo no lugar de Vavá. Ídolo do Rei Pelé, Ziza mudou o astral do público. “A partir do momento em que se anunciou Zizinho, a partida estava automática e fatalmente ganha”, exalta o escritor.

O cronista descreve a devoção da pelota por Zizinho. “A bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar o verdadeiro craque: — a pelota não largou Zizinho, a pelota o farejava e seguia com uma fidelidade de cadelinha ao seu dono”.

A exibição do craque impressiona. “No fim de certo tempo, tínhamos a ilusão de que só Zizinho jogava. Deixara de ser um espetáculo de 22 homens, mais o juiz e os bandeirinhas. A partida foi um show pessoal e intransferível”, rende-se Nelson Rodrigues.

O desfecho do texto sobre Zizinho é genial. Nascido em 14 de setembro de 1921, ele tinha 34 anos na exibição de 1955. A idade de Messi. Nelson Rodrigues ataca quem chama o centenário Ziza ou trintões como Messi e Cristiano Ronaldo de veteranos.

“O caso de Zizinho mostra o seguinte: — o tempo é uma convenção que não existe nem para o craque, nem para a mulher bonita. Existe para o perna de pau. Que importa a nós tenha Zizinho 17 ou 300 anos, se ele decide as partidas? Se a bola o reconhece e o prefere? Ele ganhou a partida antes de aparecer, antes de molhar a camisa, pelo alto-falante, no intervalo. Em último caso, poderá jogar, de casa, pelo telefone”, encerra Nelson Rodrigues.

Curta sem moderação os “Zizinhos” do nosso tempo. Bem-vindo a mais um fim de semana de Messi e Cristiano Ronaldo.

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