A expectativa era grande. Tanta que, quando o posto de saúde abriu as portas no dia em que se iniciou a vacinação de adolescentes a partir dos 14 anos, já estávamos na fila. A emoção tomou conta de mim enquanto aguardava que meu primogênito fosse atendido. Garotos e garotas chegavam aos montes, alguns de uniforme escolar, outros carregando a caderneta de vacinação — aquela com capinha infantil, que entregavam a pouca idade dos donos. Tinha até uma jovem com chapéu de jacaré, provavelmente confeccionado por ela mesma. Todos acompanhados de pais e mães que não tiravam o sorriso do rosto, perceptível até sob a máscara.
Minha felicidade era tanta que meu filho, avesso a fotos e redes sociais, não só se deixou fotografar como permitiu que eu postasse o momento tão esperado no Instagram. Tudo seguia em clima de festa. Até que, no dia seguinte, fomos surpreendidos com a notícia de que o Ministério da Saúde tinha recomendado a suspensão da imunização dos adolescentes sem comorbidades. Pais que ainda não tinham levado os filhos se desesperaram e correram para os postos em busca da dose de esperança.
Mais que surpresa, a decisão provocou indignação e preocupação. Ao interromper a vacinação dessa significativa parcela da sociedade, teríamos o risco de adiar ainda mais a tão sonhada imunidade de rebanho. Perigo que ainda corremos, já que a segunda dose para os adolescentes permanece uma incógnita.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) demonstrou essa mesma preocupação. “A significativa redução de novos casos e de mortes por covid-19 no Brasil nos últimos três meses, ainda que muito aquém de considerarmos a pandemia controlada, deve-se principalmente ao avanço da vacinação da população. Suspender a vacinação de adolescentes neste momento pode prejudicar o bom andamento do controle da pandemia no território nacional, bem como gerar insegurança quanto ao uso dos imunizantes”, diz trecho.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também se posicionou. Assim como a SBI, ressaltou a segurança do imunizante para o público acima dos 12 anos e destacou que, apesar de uma ocorrência menor da doença entre adolescentes, o grupo não está isento de formas mais graves e de sequelas, com impactos cognitivos e no aprendizado. A própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que havia liberado o uso do imunizante da Pfizer para os adolescentes, voltou a garantir a segurança da vacinação.
Diante de tanta repercussão, venceu o bom senso. Na maioria dos estados, os governadores ignoraram o Ministério da Saúde e seguiram com o programa de imunização, incluindo o Distrito Federal, que deve baixar a idade dos contemplados para 13 anos, a partir de amanhã.
Mas tamanho desencontro de informações e orientações confunde a população e pode ter consequências negativas no programa de imunização, sobretudo, neste momento, em que precisamos estar unidos no combate ao coronavírus. Que a alegria de vermos os nossos jovens protegidos se transforme em uma dose a mais de esperança!
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