“O envio de vacinas para imunização de adolescentes, de 12 a 17 anos, deve começar no próximo dia 15 (de setembro) em todo o Brasil. Essa é a orientação do Ministério da Saúde.” “(O Ministério da Saúde) não recomenda, neste momento, a vacinação dos adolescentes que não apresentem algum fator de risco.” Apenas 14 dias separam as duas afirmações publicadas no site oficial da pasta que define diretrizes para a proteção contra a covid-19 entre os brasileiros.
Foi tempo suficiente para que o ministro Marcelo Queiroga mudasse de opinião em relação à recomendação de imunizar adolescentes — com ou sem fator de risco para a infecção pelo novo coronavírus. Mas os argumentos apresentados pelo ministério para isso soaram, no mínimo, frágeis.
Inicialmente, a pasta argumentou que “entre os adolescentes de 15 a 19 anos que morreram por covid-19, 70% tinham pelo menos um fator de risco”. Dado usado para sustentar a tese de que evidências científicas “consideram o baixo risco de óbitos ou casos mais graves” nesse público, sendo recomendável, portando, vacinar apenas jovens com alguma vulnerabilidade. A julgar pelos dados do próprio ministério, 30% dos mortos na faixa etária mencionada não enfrentavam condição de risco. Não parece pouco.
A mesma pasta alertava para a necessidade de aguardar a conclusão da investigação de um evento adverso grave pós-vacinação, com morte de uma adolescente de 16 anos em São Paulo. Nenhuma vida perdida pode ser minimizada, mas é preciso considerar que o caso ocorreu em um universo de mais de 2 milhões de menores de 18 anos vacinados com 1ª dose — isso ainda no início deste mês.
O episódio apontado como sinal de alerta, portanto, representa algo como 0,00005% no total de imunizados com dose inicial. Além do caso fatal — sobre o qual a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e autoridades de São Paulo, aliás, já indicaram não ser a vacina a causa —, o ministério foi notificado de 1.545 efeitos adversos pós-vacinação em adolescentes. Algo como 0,07725% entre 2 milhões.
Por outro lado, em 2020, morreram 1.207 brasileiros abaixo de 18 anos vítimas do coronavírus, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade Infantil. “À medida que mais adultos recebem suas vacinas (...), as crianças — que ainda não são elegíveis para vacinação na maioria dos países — representam uma porcentagem maior de hospitalizações e até mortes por covid-19”, alerta a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde, Carissa F. Etienne.
A conjuntura ajuda a explicar a rejeição à nova diretriz do ministério, que reuniu cerca de 20 estados e igual proporção de capitais, mais o Distrito Federal, na decisão de ignorar a recomendação e manter a vacinação para todo o público entre 12 e 17 anos. A autonomia para isso foi referendada ontem, por decisão do Supremo Tribunal Federal.
Integrantes de movimentos de pais que pressionam pela proteção de seus filhos esperam que a postura de governos locais que se posicionam a favor da imunização de crianças e adolescentes vá além do discurso, uma vez que o ministério já sinalizou que pretende limitar o envio de vacinas a esse público. É preciso pressionar por revisão da diretriz, dentro de critérios científicos. Missão que passa por prefeitos, governadores, secretários e parlamentares, além da própria sociedade civil. Enquanto isso não ocorre, a saída parece depender de reorganização das logísticas locais, a fim de garantir que as vacinas cheguem aos jovens, que esperaram, ansiosamente, por esse momento. Inclusive para que possam preservar sua saúde, física e mental, e recuperar parte da sua necessária liberdade.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Sr. Redator
Cartas ao Sr. Redator devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome e endereço completo, fotocópia de identidade e telefone para contato. E-mail: sredat.df@dabr.com.br
Mentiras
O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas(ONU) foi mentiroso. Ele falou como se estivesse em campanha eleitoral, não como estadista. Falou que o Brasil estava à beira do socialismo, como se fosse algo feio. Sabe-se que países adiantados como Alemanha, França, Espanha e Suécia apresentam-se como regime social-democrata, onde impera a democracia, como o nome está dizendo. Em seu discurso, preponderou o negacionismo em detrimento do positivismo. Entre outras coisas, teve abordagens falsas, como é caso da pandemia e suas nuances. Foi infeliz ao citar o tratamento precoce, para não dizer, mentiroso. Um presidente com essa postura não pode presidir um país tão importante como o Brasil. Aliás, nenhum país. Quem já teve JK e FHC se depara com um pseudopresidente.
Enedino Corrêa da Silva, Asa Sul
Paulo Freire
Paulo Freire foi um grande educador brasileiro, que até hoje causa inveja a certas pessoas, mais precisamente aqui no Brasil. Queria entender o porquê dessa gente não aceitar pobre fazer faculdade, ser alfabetizado e ter perspectiva de um futuro melhor. Até ministro fala que faculdade não tem que ser para todos, que criança com algum problema, tanto mental quanto de visão etc. não pode ser educada junto aos demais alunos, pois atrapalha o aprendizado. Creio que essa gente que não gosta do educador Paulo Freire tenha sido alfabetizada pelos seus métodos e, hoje, vê o mundo como ele é e sem mentiras. E, agora, adultos querem fazer um apartheid educacional por aqui. Quem em sã consciência não gosta de estudar, de ler? Quem não gosta de escrever para emitir sua opinião sobre vários assuntos do dia a dia? Vamos valorizar os feitos do grande educador Paulo Freire para o Brasil e o mundo e deixar de birra, pois educação não tem partido nem bandeira.
Walber Martins, Brasília
» Discordo de toda a “análise”, feita por um leitor, sobre Paulo Freire, exceto, por óbvio, o último parágrafo. Ele, o leitor, é um perfeito exemplo de quem não compreende o quê lê e pensa que sabe escrever. Vocábulos repetidos, adjetivos desnecessários, períodos longos, frases vazias, argumentação primária etc. Ele é um ótimo exemplo de quem “segue sem saber escrever, para, inclusive, emitir uma simples opinião”. Que falta fez — e faz — Paulo Freire na sua (dele) biblioteca.
Ludovico Ribondi, Noroeste
O dedo
Quem diria... Um homem de boa linhagem, bem-criado, fino no trato e supereducado, médico de projeção e sabedor sobre educação, assim pinço alguns predicados do ministro da Saúde, doutor Marcelo Queiroga, “estirando o dedo”, como nós, nordestinos, dizemos neste caso, e educadamente mostrando o dedo do meio para uma multidão em Nova York. Dizia meu querido e saudoso pai na altura dos seus 94 anos: “Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és”. O senhor ministro estava acompanhado do mito, que sempre demonstrou aversão pelas pessoas de bem. A educação de berço que deveria ter, o mito não teve. Um pouco de educação não demonstra no curralzinho à saída do Palácio da Alvorada recebendo pessoas devidamente instruídas para as perguntas. Feio o que fez a comitiva do mito para a reunião da ONU. Envergonhou todos nós e o mundo.
Hortêncio Pereira de Brito Sobrinho, Goiânia (GO)
Fanatismo
A palavra “fanático” nem sempre foi um insulto ou uma acusação. Até onde sabemos, pode ter começado como uma espécie de elogio. O termo latino “fanaticus” vem de “fanus”, um altar ou um santuário. Designava o benfeitor de um templo, ou um indivíduo diretamente inspirado pelos deuses, um mecenas das artes sacras ou um artista invulgarmente talentoso poderiam ser, à sua maneira, fanáticos. Cícero, no século primeiro a.C, talvez tenha sido o primeiro a usar a palavra de forma pejorativa, numa de suas orações, o termo vira sinônimo de supersticioso. Centenas de anos depois, Voltaire chegou a uma definição mais próxima daquela que usamos hoje. “O fanatismo é uma doença da mente, que se transmite da mesma forma que a varíola”, escreve no Dicionário Filosófico, de 1764. “Não transmite tanto por livros quanto por discursos e reuniões. O romance A Benevolentes, do franco-americano Jonathan Littell (publicado no Brasil pela Alfaguara, em 2006), é um dos estudos mais nítidos e assustadores da devastação causada pelo fanatismo sobre o intelecto. O Holocausto e a invasão nazista da União Soviética são narrados pela perspectiva de Maximilien Aue, jovem franco-alemão, bom leitor, que sonhava ser pianista, mas acaba se transformando em oficial da SS. Com hedionda nitidez, esse narrador suspeito, mas avassalador, descreve a metamorfose gradual de um cidadão esclarecido em um carrasco, em cujo relato o fanatismo não parece uma escolha, e sim um destino histórico que arrasta corpos e almas em turbilhões aparentemente opostos, mas de naturezas igualmente patológicas. Na narrativa de Aue, o fanatismo é uma fatalidade: sob determinadas circunstâncias, qualquer ser humano poderia convencer-se da irrelevância do indivíduo e sacrificar-se a uma ou outra modalidade de pensamento absoluto. Que haja um antídoto à praga, às interpelações fanáticas.
Renato Mendes Prestes, Águas Claras
Desabafo
Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
Não querem bananinha? Que comam brioches!
Marcos Paulino — Águas Claras
Drone com inteligência artificial israelense usado para assassinar cientista iraniano. Realidade jogando poeira na ficção.
José Matias-Pereira — Lago Sul
Enquanto, aqui, a Polícia Federal deflagra a operação Pés de Barro, lá fora, na ONU, o presidente dá motivo para todos tirarem sarro!
Marcelo Pompom — Taguatinga
De olho no céu... A chuva deve, finalmente, chegar ao Distrito Federal neste fim de semana.
José Ribamar Pinheiro Filho — Asa Norte