OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — CPI e os cassinos

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
postado em 25/09/2021 06:00

Com relação às CPIs, há muito já se sabia: quanto mais ela cava, mais encontra vestígios enterrados de falcatruas de todo tipo, cometidas em todo tempo e lugar. Fosse prorrogada ad infinitum, ainda assim seriam descobertos crimes diversos. Por isso, o prazo estabelecido para o encerramento dos trabalhos, com a apresentação do relatório final. E, também, a definição do escopo e dos limites impostos às investigações. É como dizer: essa CPI só pode cavar aqui nessa área cercada. Doutro modo, veríamos o país se transformar em uma gigantesca Serra Pelada.

Acontece que, quando se está no escuro do subsolo, a desorientação faz com que os investigadores avancem além das direções delimitadas e acabam encontrando novos e reveladores crimes conexos. Para a sorte de uns e não tanto de outros, a atual Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, denominada CPI da Pandemia, foi obrigada a prorrogar os trabalhos e a entrega do relatório final, que muitos acreditavam já estar pronto, por conta de novas informações que vão chegando diretamente dos buracos recém-escavados.

Num dos últimos depoimentos colhidos pela CPI, o diretor-geral da Precisa Medicamentos, Danilo Trento, empresa que teve seus bens bloqueados pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por conta da compra da vacina indiana Covaxin, ao ser inquirido sobre sua viagem a Las Vegas nos Estados Unidos com uma comitiva de parlamentares, o empresário desconversou, afirmando não saber. Mesmo diante dessa evasiva, os senadores que compõem a Comissão fizeram lembrar ao desmemoriado depoente que ele e a tal comitiva, paga com dinheiro do contribuinte, estiveram na chamada “cidade do pecado” para verificar, in loco, a possibilidade de trazer os cassinos de volta para o Brasil, com a liberação total dos negócios relativos à jogatina.

Trata-se, segundo alguns senadores, da possibilidade da concretização de um desejo da base do próprio governo de ver a volta dos cassinos ao nosso país. Para alguns senadores mais exaltados, a viagem tratou da possibilidade de organizar meios para que a lavagem de dinheiro, a sonegação de impostos e o fomento ao crime organizado entre no país sem chamar a atenção. “A máfia americana de Las Vegas tomaria conta desse negócio grande e as milícias que existem hoje continuariam a tomar conta dos negócios pequenos”, disparou outro senador.

Ora, ora, ora, quem diria que a CPI, ao mirar nos descaminhos da covid-19 e na omissão do governo federal com a vacinação, acabaria adentrando na seara da jogatina e da máfia que, há décadas, comanda esse tipo de negócio nos EUA e em outras partes do mundo. Vira e mexe e a questão da volta dos cassinos entra na pauta do Congresso. Os presidentes das duas Casas do Congresso já deram a entender que, caso haja o aval de líderes partidários, o Legislativo tratará, mais uma vez, da questão da liberação dos jogos de azar. Inclusive há, na Câmara dos Deputados, um grupo de trabalho destinado a promover a legalização dos jogos de azar, com previsão para concluir seus trabalhos ainda esse ano.

Mesmo o atual governo vê com bons olhos essa possibilidade para incrementar a arrecadação de impostos. O mais impressionante é que são justamente aqueles que se dizem conservadores os mais empenhados na volta dos cassinos. Não tenham dúvidas, uma vez instalados no país, em pouco tempo, haverá a necessidade da instalação de uma CPI para investigar os cassinos. Cassinos representam, na avaliação do cidadão de bem, a possibilidade de dar recursos infinitos para as organizações criminosas. A questão é que esse é um projeto já rechaçado pela população que conhece bem a índole de nossos políticos e sua dissintonia com as necessidades reais dos brasileiros, mas que ainda insistem no tema por enxergar nesse retorno dos cassinos uma ou muitas possibilidades de ganhos e vantagens para eles e seus partidos.

A frase que foi pronunciada

“Os homens distinguem-se entre si também neste caso: alguns, primeiro pensam, depois, falam e, em seguida, agem; outros, ao contrário, primeiro falam, depois agem e, por fim, pensam”
Leon Tolstói


Comunidade unida
Já foi dado o pontapé inicial para as obras do Santuário São Francisco, na Asa Norte. No Blog do Ari Cunha, a foto de José Ivan Santos, artista que está fazendo um painel com material reciclado, seguindo a linha franciscana.


Livro
Por falar em São Francisco de Assis, Tania Fontenelli nos informa que foi publicado um e-book sobre “Verde Urbano”. Trata-se de um primeiro livro da série “Eu, o meio ambiente e você”, que traz temas científicos para serem popularizados. A Unapress fez o projeto gráfico e a capa é de Sebastião Salgado. Veja mais informações no Blog do Ari Cunha.


Sem quê
Lembram da árvore da Valentina na entrada do Lago Norte? Não podaram. O pessoal da manutenção dos jardins eliminou-a.


De olho
Maria Lucia Fattorelli sublinha o Art 37-A da PEC 32, que permite que negócios privados usem estabelecimentos públicos para prestar seus serviços.

 

História de Brasília

Falando de tilápias, que modéstia à parte é nossa especialidade domingueira, disse que o governo gastou milhões importando esses peixes do Japão. Não custou isto, nem vieram do Japão. Embora originárias da África (África, seu moço), vieram para São Paulo, onde reproduziram, e foram colocadas na granja do Ipê. (Publicada em 09/02/1962).

 

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