BARTOLOMEU RODRIGUES -Secretário de Cultura e Economia Criativa
Teste rápido: qual o Estado que mais investiu em cultura neste 2021 de tantas cicatrizes e marcas deixadas por uma pandemia? Quem responder São Paulo, errou; Rio, também não é. Modéstia à parte, essa distinção cabe ao Distrito Federal, quem diria, menor unidade territorial, mas com população nada desprezível de quase quatro milhões de habitantes.
Os paulistas questionaram, objetaram, protestaram, mas é isso mesmo. Esta semana, ao sancionar lei de complementação orçamentária, o governador Ibaneis Rocha destinou ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC), administrado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa, um aporte de R$ 91,6 milhões que, somados aos R$ 53 milhões disponibilizados no primeiro semestre, totalizam R$ 144 milhões e uns quebrados.
Está aí uma boa disputa. Em tempos de vacas magérrimas, quando se olha o deserto em que se transformou o cenário federal, chega a ser um estímulo ao nosso espírito bairrista. Aqui vai outra provocação: o Rio, meca do cinema nacional, fez barulho para anunciar uma linha de financiamento de projetos audiovisuais que, cá entre nós, está longe de alcançar o que destinamos à realização de 16 longas-metragens, curtas e séries.
E não é que resolvemos recuperar o Polo de Cinema, que andava esquecido? Sem falar que o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, garantido para dezembro, no momento que escrevo este texto, recebeu mais de 400 inscrições!
Mais de mil projetos, pequenos, médios e grandes serão contemplados no momento em que finalmente o mundo adoentado se dobra e reconhece o valor da cultura para o desenvolvimento humano. Desta vez, ao descentralizar a aplicação dos recursos, os agentes culturais da periferia tiveram a oportunidade de submeter seus projetos e mostrar a força das múltiplas linguagens que fazem do Distrito Federal um caso único no Brasil.
Do circo ao teatro, da literatura à gastronomia, da dança aos batuques, dos festivais aos grandes eventos, nada ficou para depois. E se a inclusão é hoje requisito legal para a realização de políticas públicas, para nós, trata-se de respeitar e valorizar a arte que se manifesta nos segmentos de gênero, cor e mesmo das pessoas com deficiência. Em recente evento público ao qual compareci, fui abordado por um autista que, vencendo a timidez, com muito esforço me dirigiu as seguintes palavras: “Oi, tudo bem? Eu estou participando do FAC. Eu faço fotografia.”
Como não se emocionar com isso? Em julho, ministros da Cultura do chamado G20, formado por países das maiores economias do mundo, proclamaram, em reunião realizada na Itália, que a cultura possui um papel central na “resiliência e recuperação das nossas economias e sociedades”. Mas o que me chamou a atenção na Carta de Roma foi a conclusão de que a cultura é essencial para a saúde mental da humanidade.
Não sei o que diriam os ministros se vissem o que fizemos nestes mil dias de GDF para manter a cultura viva. Tivemos, é verdade, uma ajuda do Congresso Nacional no ano passado com a Lei Aldir Blanc, algo em torno de R$ 36,9 milhões. A execução desses recursos se deu de forma exemplar, deve-se destacar. O que sobrou e nos foi disponibilizado, na ordem de R$ 3,5 milhões, disponível à comunidade cultural por intermédio de um edital de premiação, cuja inscrição começou.
Não ficamos um só mês parados, desde que a tragédia pandêmica se abateu sobre nós. Entregamos o Museu de Arte de Brasília, o MAB, recuperamos a administração do complexo cultural Funarte, que no momento oportuno será rebatizado, bem como abarcamos o antigo Cine Itapuã, no Gama; revitalizamos e reequipamos os museus de madeira, como Catetinho e o Memória Viva; dinamizamos o Memorial dos Povos Indígenas, ampliando o seu acervo; a Concha Acústica, que voltou a ser palco de apresentações memoráveis; o Espaço Oscar Niemeyer, a Rádio Cultura etc. E está com tudo pronto para o retorno às atividades o Espaço Cultural Renato Russo, sem deixar de mencionar os centros culturais de Planaltina e Samambaia... A lista é imensa. Nela está, claro, o Teatro Nacional, mas esta é outra história, não custa esperar um pouquinho.
Senhoras e senhores, em 2022 Brasília será Capital Ibero-Americana da Cultura, título concedido pela União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (UCCI), porém, a partir da publicação do edital FAC Multicultural 2, na quarta (29/9), passou a ser também, de fato e de direito, Capital Nacional da Cultura. Com muita honra.
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