Zé Carioca
Nos meus tempos de universidade, um colega que apareceu por lá, mais de uma vez, trajando uma calça verde-oliva e uma camisa amarela, acabou ganhando o apelido gozador de “Pátria Amada” que ele carregou até a graduação. Na quarta-feira, um espirituoso âncora da nossa televisão acertou na mosca, ao retratar como o Zé Carioca, da Disney, a histriônica figura do depoente negacionista, que se exibia na CPI da Covid.
Lauro A. C. Pinheiro, Asa Sul
Sem vacina
Jair Bolsonaro tem dado largos passos em direção aos sombrios intentos que acalenta. Enquanto embroma a plateia com as patuscadas de sempre, trabalha com seus correligionários para destruir o que resta das instituições. Atiçou a Justiça, a ponto de deixar os “capinhas” nervosos. Mantém suas marionetes no Congresso à custa de muita grana. Brinca de gato e rato com quem pensa que é mais inteligente que ele. Enquanto isso, destruiu a economia, a educação, a saúde, a cultura, a arte, a memória que construímos a duras penas, o meio ambiente, nossa maior riqueza, os povos originários, os remanescentes dos escravos. É pior que a pandemia. Por isso, desdenha dela. Não há vacina contra o mal. Enquanto isso, o Brasil parece entorpecido, dopado, sem ver o perigo que o devora por dentro.
Jane Araújo, Noroeste
Pica-pau
Os jornais publicaram que o pica-pau está extinto. Como? Não vai mais ser exibido o desenho animado na televisão? Por motivo de audiência, saiu de cartaz dos canais kids? Era tão engraçado seu jeito maluco de picotar árvores, sua esperteza para aprontar e se desembaraçar de situações complicadas. Embalou tantas gerações no entretenimento. Sem falar no gibi com seu traço limpo e cativante. Ele era um dos símbolos da cultura pop, tão inserido nas eternas discussões de alienação, elitismo e escapismo cultural. Mas isso passou. É pretérito. Peraí! Não é nada disso! A notícia é de que a ave pica-pau, que inspirou o desenho animado, foi considerada extinta e mais 22 espécies de animais, pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos, em decorrência de ação humana com o meio ambiente. O pica-pau com seu hábito inato de triturar árvores teve sua espécie chacinada pelo homem, que tritura árvores em nome do desenvolvimento do capitalismo selvagem. É uma notícia que espelha exatamente o processo de autodestruição humana. Numa interpretação simplista, se não houver consciência ecológica, veremos que, se não temos pica-pau, é porque não tem árvores, se não temos árvores não teremos água, se não temos água, não temos como matar nossa sede, se temos sede morreremos. É o atestado de óbito e burrice dos que encaram ecologia como frescura de ecochatos.
Eduardo Pereira, Jardim Botânico
Desafio
Em um texto escolar centenário, o filho pergunta ao pai o que é "plebiscito". Não querendo revelar sua ignorância, o pai desconversa. Hoje, antes de perguntar ao pai, o filho já estaria no Google. No passado, faltava informação. Hoje, somos inundados pelo excesso. O desafio agora é descobrir o que conta e o que merece confiança. Vejamos alguns conselhos simples. De início, quem não sabe nada do assunto é presa fácil de mentiras ou bobagens de boa-fé. Cultura é a primeira linha de defesa. Por exemplo, quem estudou um pouquinho de física sabe que o moto-perpétuo é uma impossibilidade, portanto ignora inventos desse tipo. Uma regra útil é conhecer a identidade do autor. Anônimo na internet ou nas redes sociais é mentira instantânea e impunidade eterna. Portanto, sem autor, nem vale a pena prestar atenção. Mas, havendo autor, se é mentira, rola alguma cabeça? Conforme o assunto, temos de nos precaver ainda mais. O que dizem aqueles que pensam de modo diferente? Há consenso entre os entendidos no assunto? Para quem trabalha o autor? Quem financiou o estudo (pesquisas associando cigarro a câncer, se financiadas pelas fábricas, merecem pouca confiança)? Como se pode ver, desmascarar mentiras dá trabalho. Se quisermos verificar tudo, nossa vida se esvai nessa empreitada. É preciso, então, ser seletivo. Diante de uma bobagem ingênua ou inverossímil, sorrimos, nada mais. Outras afirmativas podem ser sérias, mas não merecem maior gasto de tempo. Será que Colgate é a escolha dos dentistas? Conselho final: se algo não merece confiança, não passe para a frente.
Renato Mendes Prestes, Águas Claras
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