OPINIÃO

O Centrão no governo

A ida de Ciro Nogueira para a Secretaria-geral da Presidência é um sinal de que o empoderamento do Centrão no Palácio do Planalto não foi apenas um acidente.

A ida de Ciro Nogueira para a Secretaria-geral da Presidência é um sinal de que o empoderamento do Centrão no Palácio do Planalto não foi apenas um acidente. A entrega da Casa Civil ao Centrão descontentou os seguidores de Bolsonaro nas redes sociais, pois a Casa Civil tem um papel estratégico na coordenação da administração federal. Entretanto, na Secretaria-geral, Ciro Nogueira não terá a força política que seus aliados no Congresso esperam. Logo, o pré-ditador partiu para a passeata de 7 de Setembro.

Não faltam motivos para a mexida no Palácio do Planalto na metade do terceiro ano de mandato. O tempo ruge para Bolsonaro. O presidente da República perde o foco com atos de repercussão negativa e assuntos que não são prioritários. O tempo perdido cobra seu preço nos indicadores do governo. Basta olhar para os problemas reais do país, a começar pela crise sanitária. Nove capitais registraram, mais de uma vez, (citarei algumas) falta de vacinas — Belém, Campo Grande, Florianópolis, João Pessoa, Rio de Janeiro, Salvador e Vitória —, o que é um atestado de incompetência do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Quatro ministros depois, as falhas do governo federal na coordenação do combate à pandemia continuam. Bolsonaro continua acumulando notícias negativas na saúde. A vacinação avança num ritmo lento, apesar dos esforços dos estados para controlar a pandemia. O número de mortes diárias não reduz o trauma de 580 mil mortos.

O mau desempenho do governo é escandaloso na saúde, mas isso não significa que em outras áreas tudo esteja bem. Houve um desmonte de políticas públicas na educação, com universidades e outros estabelecimentos federais de ensino à míngua, crise de financiamento na rede privada e evasão escolar generalizada. A ausência de uma política de habitação adequada, somada à pandemia, multiplicou a população em situação de rua nas grandes cidades. Na segurança pública, a liberação da venda de armas e a truculência policial fizeram explodir o número de mortes por arma de fogo; a violência e a insegurança aumentaram. E muito dinheiro dado ao pessoal militar, inclusive às polícias militares estaduais.

Na área econômica, o agronegócio e a mineração vão bem, porém a agressão ao meio ambiente tem preço. As mudanças climáticas estão em toda parte e, com isso, as pressões internacionais sobre o governo aumentarão. As enchentes na Alemanha, na Holanda e em outros países europeus farão recrudescer os protestos e retaliações contra o governo brasileiro e produtos brasileiros; ao mesmo tempo, no Brasil, os incêndios provocados pela seca começaram, e ainda teremos uma crise energética. Esse governo não fez obras em qualquer setor da economia.

Alta da inflação, juros subindo, 15 milhões de desempregados, mesmo com a expectativa de crescimento neste ano, o ambiente econômico é muito ruim para a maioria da população. Como acontece nas crises, os mais pobres estão mais pobres. Entretanto, a retomada do crescimento é um fator positivo, do ponto de vista da rentabilidade das empresas e do próprio Bolsonaro. Um voo de galinha da economia, em ano eleitoral. Mas o povo brasileiro começou a distinguir a sinceridade da hipocrisia, a vontade de poder e do gosto patológico pelo mando.

Demagogo e pedante, a sinceridade do presidente, com seus apelos a Deus, não convence o povo sofrido das grandes cidades do Brasil. Sua base eleitoral é, hoje, de 22% da população — alocada na classe média medíocre e cínica do Brasil. O povo mais pobre aguarda o momento e percebe bem a falsidade do presidente, vaidoso, que só pensa em si e nos seus familiares. Nem seus aliados confiam nele. Esperam e aumentam a pressão por cargos, benesses e sinecuras. O Centrão é pragmático. O que puder tirar do governo, o fará com vontade e precisão. Mas com ele não tem nenhum compromisso ideológico ou político.

O governo vai mal, é incompetente e na hora azada será abandonado aos leões que desejam devorá-lo. Rei morto, rei posto. Sempre foi assim! O Brasil compreendeu Getúlio e Juscelino. Nunca engoliu Lacerda, a UDN, José Sarney, os generais presidentes. Quem viver, verá! Nem Collor nem Bolsonaro estiveram no coração das massas. Não passam de farsantes. Querem o poder como vanglória (glória vã).

Quer comparar os petistas aos comunistas. Isso não pega no povo. Vá pra casa, Bolsonaro. Seu ídolo Trump, foi mesmo armando confusões. Queremos democracia, paz e convivência. Você é um criador de casos e confrontações que a todos sobressalta e prejudica. Os espíritos estão nos avisando. Não haverá a sua reeleição.