Há 15 anos era lançado o clássico livro Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology, escrito pelo professor Henry Chesbrough. De lá para cá, quase tudo que conhecemos mudou, se renovou ou, ainda, se aperfeiçoou. A nova abordagem de inovação colaborativa para a captura externa das fontes de conhecimento propunha novos mecanismos de gestão da inovação e competências cocriativas de valor para negócios. Recepcionada, a princípio, com um certo ceticismo pela comunidade acadêmica e empresarial, ou, então, mais um novo modismo editorial de consultoria, foi se consagrando como uma estratégia de inovação dinâmica e adaptada ao novo cenário digital de competição global.
Empresas referências em suas respectivas áreas, como Embraer, Natura, Braskem, Procter Gamble e, na área da tecnologia da Informação, Apple, Oracle, IBM, além das nativas digitais, como as big Techs Google, Amazon e Facebook, contam com estratégias orientadas para a inovação aberta e contínua. Inspirada na experiência da Xerox Parc em Palo Alto e no Silicon Valley, a análise de Chesbrough, por exemplo, revelou os limites de uma estratégia de inovação isolada (in house) centrada no produto (product centric) sem analisar a experiência da usabilidade do cliente (human centric) e ampliando o foco do potencial de exploração para novos negócios, new ventures e apropriação de mercados invisíveis. E podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que a negligência ou a incapacidade de gerir seus ativos tecnológicos gerados da Xerox Parc foi o arquétipo de aprendizagem para a construção das ideias da abordagem da inovação aberta.
Na Xerox Parc, foram desenvolvidas invenções que se tornariam, no futuro, inovações disruptivas com grande marco para a humanidade, como o surgimento da ethernet (internet). Isso aconteceu na década de 1970, quando Robert Metcalfe escreveu um memorando para os seus chefes contando sobre o potencial dessa tecnologia em redes locais. Na sequência de suas contribuições, surgiram novos produtos como o mouse, a interface gráfica, impressão via computador, algoritmos de buscas na internet e protocolos de mensagens eletrônicas exploradas como novos modelos de negócios por outras empresas. Com muito sucesso e visão exponencial fora da curva, se tornaram o que são hoje Apple, Microsoft, Google, Outlook, entre outras do setor.
As invenções e os esforços tecnológicos devem ser alavancados por meio de novos mecanismos de gestão de inovação colaborativa com parceiros, fornecedores, clientes, startups, institutos de pesquisa e universidades, sendo imprescindível aplicar políticas de gestão de conhecimento e ativos intangíveis como propriedade intelectual e licenciamentos. Se a Xerox tivesse uma estratégia de inovação aberta, podemos dizer que seriam grandes as chances de a companhia figurar, hoje, entre uma das maiores empresas da história. No cenário nacional, a abordagem de inovação aberta foi especialmente adotada pelas empresas para projetos com captação de recursos externos do sistema nacional de fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), sendo contratualmente celebrados em parcerias para PD&I conjuntas com instituições que integram o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia como FAPs, Finep e EmbrapII.
Impulsionado pela edição de um novo marco legal e institucional de CT&I, além de lastreado pelos fundos setoriais, houve um esforço expressivo na capacitação organizacional das universidades, ICTs, NITs e nas empresas por meio da estruturação das áreas de projetos para a inovação colaborativa. Esse movimento inaugurou a propagação de novas arquiteturas institucionais denominadas de ecossistemas de inovação. Entre eles, podemos destacar o Cubo, Inovabra e Google, onde a intensa interação dos fluxos de conhecimento entre os atores com foco na criação de negócios escaláveis — impulsionadas pelo capital empreendedor — culminou em uma nova geração de startups, fintechs e unicórnios no Brasil, a exemplo da 99 App, Nubank, Quinto Andar, entre outras.
Assistimos hoje a uma nova competição global orientada pela inovação analítica digital organizada em ecossistemas em que, muitas vezes, são liderados por grandes players, a exemplo do fenômeno GAFAM — acrônimo das gigantes da web — Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft. A transformação digital em curso denominada 4.0 direciona as configurações competitivas em ecossistemas digitais e requer o uso de ferramentas de IoT, inteligência artificial e smart analitics para o processamento das informações comportamentais dos usuários para o design de estratégias de inovação aberta acopladas a modelos de negócios.
O principal desafio que se impõe para as empresas e a sociedade brasileira no campo da inovação será a construção de ecossistemas digitais de inovação 5.0, um avanço em relação a visão da indústria 4.0. O manifesto da sociedade 5.0 foi lançado pelo governo japonês no 5° Plano Básico de Ciência e Tecnologia, em 2016. O documento define as políticas de inovação para o futuro do país. Na sociedade 5.0, o foco do desenvolvimento de soluções tecnológicas e digitais devem ser orientadas para o bem-estar humano, a qualidade de vida, a preservação da biodiversidade do planeta e a resolução de problemas sociais. Um fundamento crítico será a governança da inovação aberta digital combinando os atributos de criação de valor seguindo os critérios indeléveis de responsabilidade corporativa (accountability), transparência, equidade e cibersegurança.
O segredo para a criação de ecossistemas digitais de inovação aberta orientado pelos valores 5.0 será a formação de recursos humanos com novas competências digitais para inovação. Além disso, investimentos abundantes na educação que favoreça a experiência em culturas digitais inovadoras, colaborativas e analíticas. O aprimoramento das habilidades digitais gera impacto econômico e social. Segundo estudo da Mackinsey and Company, existe uma correlação positiva entre habilidade digital e renda, assim como impacto positivo para o PIB: o aprimoramento de competências digitais tem o potencial de ajudar cerca de 21 milhões de brasileiros a encontrar trabalho e pode resultar em um acréscimo de até 70 bilhões de dólares ao PIB nacional. Sem políticas ativas públicas e de inteligência pelas empresas para a inclusão digital, gestão de pessoas e educação orientadas para as novas competências digitais inovativas, o Brasil dificilmente acompanhará a nova onda da transformação digital 4.0 e estará mais ainda distante da sociedade 5.0.
Problemas ambientais, acordo climático mundial, desigualdades sociais e os desafios de competitividade na economia global aumentaram a conscientização sobre a necessidade de mudanças na interação com os consumidores. Os próprios consumidores, especialmente as gerações millenials, Y e Z estão se tornando mais avessos ao risco quando se trata de gastar seu dinheiro condicionando às políticas corporativas. Esses consumidores preferem gastar seu dinheiro em marcas que pregam mensagens pró-sociais, aplicam práticas de fabricação sustentáveis e exercem padrões éticos nos negócios.
De acordo com o estudo Finger on the Pulse da Horizon Media, 81% dos millennials esperam que as empresas declarem publicamente suas ações corporativas com foco no meio ambiente. Com isso, abre-se espaço para a Ecoinovação, que se traduz em um avanço importante no sentido do desenvolvimento sustentável, reduz o impacto dos nossos modos de produção no ambiente, reforça a resiliência da natureza às pressões ambientais ou utiliza os recursos naturais de forma mais eficiente e responsável.
*Professor de pós-graduação em administração no Centro Universitário FEI, escritor e expertise em inovação
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