O preconceito é inaceitável e deve ser combatido com todas as forças. Não há como minimizar esse tipo de comportamento retrógrado, que, aos olhos da lei, deve ser tipificado como crime, pois está na raiz de toda a violência que ceifa vidas de inocentes apenas por causa de sua orientação sexual, sua opção religiosa, por ser mulher, negro, indígena, por não se adequar ao que a sociedade define como padrão tradicional.
A desculpa de que um comentário agressivo foi apenas uma brincadeira de mau gosto, que deve ser relevado porque alguém bebeu um pouco além da conta naquele churrasco familiar de fim de semana, deixou de caber no mundo civilizado que todos anseiam. É esse tipo de complacência que estimula os preconceituosos a se sentirem fortalecidos para continuar cometendo crimes. Acreditam que jamais serão punidos.
Movido pelo preconceito, o Brasil, infelizmente, tornou-se o país que mais mata gays, transexuais, travestis. Também é um campeão em feminicídio. De cada 10 pessoas assassinadas todos os anos, sete são negras. Os ataques contra indígenas estão em disparada. Não há o menor respeito em relação a pessoas com deficiência. Por onde quer que se olhe, a intolerância está latente. É impossível ter paz em uma nação em que o preconceito está enraizado e pouco se faz para combatê-lo.
Como diz o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), em entrevista ao Correio, o Brasil precisa, urgentemente, começar a reverter séculos de políticas estruturais machistas, racistas e LGBTfóbicas. Isso se faz por meio de ações consistentes nas áreas de educação, saúde, economia e segurança pública. O preconceito, acrescenta ele, aumenta as desigualdades sociais, retarda a busca por melhores condições de vida e por justiça.
O senador, por sinal, deu uma forte lição ao país ao enfrentar, com altivez, um de seus agressores na CPI da Covid. A força das palavras do parlamentar ecoaram e deram a certeza de que há, sim, um movimento irreversível contra a intolerância. Mas é preciso mais. É necessário que o Congresso encampe de vez projetos que punam aqueles que discriminam, que desrespeitam os que pensam e agem diferente. As conquistas até agora vieram com o apoio do Judiciário, que tem sido um farol no deserto perigoso do preconceito.
Nada, porém, vai mudar se não houver um engajamento real da sociedade. Discursos vazios não contribuem para nada. Chegou a hora de políticas concretas, de cobrar as autoridades, os legisladores, aqueles que têm poder de decisão. Se não for assim, o país continuará empilhando mortos — gays, trans, mulheres, negros — somente porque seus assassinos discordaram de seus comportamentos, de sua cor, do fato de serem do sexo feminino.
Respeitar o próximo, o direito de cada um ser o que é, de pensar diferente, de ter a sua fé é o caminho para um país mais justo socialmente. Já excluímos e enterramos inocentes demais. Basta de tanta intolerância. Não ao preconceito.
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