Depois de enfrentar um 2021 com momentos de colapso e horror nos serviços de atenção à saúde, marcados por mortes nas filas de espera por leitos de UTI, o país parece caminhar para um fim de ano de controle da pandemia, mesmo com evidente relaxamento das regras de distanciamento social. A grande responsável pelo quadro, ao que tudo indica, atende por um nome geral conhecido — vacina — com variações de sobrenome. CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer, Janssen — pouco importa o complemento — foram capazes de frear o avanço da doença, graças à maior campanha de vacinação da história do país. Tudo isso apesar dos conhecidos percalços, atrasos e equívocos que, se evitados, teriam potencial de tornar a experiência menos dolorosa.
Agora, o país está novamente diante da necessidade de decisões que podem alterar o curso da crise sanitária. E, mais uma vez, vê medidas que deveriam ser abordadas do ponto de vista da ciência serem debatidas sob a ótica da política. Uma delas é a controvérsia sobre a adoção do chamado passaporte da vacina, que funciona como um estímulo à imunização e é defendido por especialistas de peso e instituições da envergadura da Fundação Oswaldo Cruz.
Negar a importância de medidas como essa em defesa de suposta proteção de liberdades individuais é negar os números, as evidências e tornar a uma discussão que já atrasou sobremaneira a largada para a imunização em massa no país. Segundo dados mais recentes da Fiocruz, o processo de vacinação, com cerca de 240 milhões de doses aplicadas, proporcionando cobertura de aproximadamente 70% da população com a aplicação inicial e mais de 40% com o esquema vacinal completo, vem contribuindo claramente para melhorias do cenário.
Boletim do Observatório Covid-19, da fundação, aponta redução generalizada das taxas de ocupação de leitos UTI, com 25 unidades da federação, incluindo Minas Gerais, fora da zona de alerta. Permanecem em alerta intermediário apenas o Espírito Santo e o Distrito Federal, nesse último caso com elevação da lotação atribuída à redução do número de vagas para pacientes com a doença.
Os dados referentes às duas semanas entre 12 e 25 de setembro mostram ainda redução de 27% nos números de internações e de 42,6% nos de óbitos. Animador, para um país que já chegou a contar mais de 4 mil vidas perdidas em um único dia, e cuja média móvel de mortes em 24 horas recuou para a casa das 500 neste mês, considerado o período de 14 dias. Um alívio, sem dúvida. Mas ainda é pouco.
É essa a razão para manter a prevenção, principalmente em um cenário em que os relaxamentos de restrições avançam, e no qual o fim de ano encontrará uma população animada com indicadores — que, se espera, seguirão positivos — e ávida por reencontros com parentes e viagens de férias. De resto, foi o que ocorreu em 2020 e levou a um repique catastrófico da doença. Por mais que o quadro tenha evoluído, é muito cedo para relaxar, como adverte a própria Fiocruz, ao alertar que é imperioso avançar na vacinação, inclusive com a terceira dose para públicos vulneráveis — entre eles idosos, que voltam a liderar casos de internação e morte.
E a fundação é categórica sobre a necessidade de manter o “amplo emprego de medidas de proteção individual, como o uso de máscaras e o distanciamento físico e social” e defender “medidas de saúde pública, como o passaporte de vacinas”. Não é hora de baixar a guarda. Não é hora de retomar polêmicas que pareciam vencidas. É preciso, enfim, que aqueles que defendem supostos direitos individuais, em contraposição ao interesse coletivo em um quadro de pandemia, passem a responder quantas liberdades valem uma vida.
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