Todas as vidas valem — e muito. Portanto, é inaceitável que o Brasil tenha atingindo a trágica marca de 600 mil mortos pela covid-19. Famílias destruídas, centenas de milhares de crianças órfãs, sonhos interrompidos, além de muitos sequelados. Parte desse filme de horror, no entanto, poderia ter sido evitado se o país tivesse feito o básico: primeiro, uma política efetiva de defesa do distanciamento social e de medidas sanitárias, depois, iniciado, de forma coordenada, um programa de imunização, que, ressalte-se, sempre foi executado com total eficiência por aqui, um modelo para o mundo.
Desde que a pandemia do novo coronavírus foi decretada, em março de 2020, em vez de união, o que se viu no Brasil foi uma divisão assustadora. Um assunto extremamente sério, de saúde pública, foi politizado, e uma parcela importante de autoridades e da população se apegou ao negacionismo. Zombou-se da gravidade da covid-19, comparada a uma gripezinha. Desdenhou-se de alertas de especialistas de que a ciência deveria prevalecer e de que a prioridade era salvar vidas, ainda que a economia pagasse seu preço. Apegou-se a tratamentos não reconhecidos como se fossem a salvação para todos os males.
A política falou tão alto, que, nesse um ano e oito meses de pandemia, o Ministério da Saúde teve quatro comandantes. Não houve a esperada articulação com governadores e prefeitos, que só conseguiram executar medidas duras para conter a disseminação do vírus com a chancela do Supremo Tribunal Federal (STF). A visão ideológica distorcida atrasou, sobremaneira, a compra de vacinas. Pior, até hoje, mesmo com tantas vidas perdidas e a gravidade da maior crise sanitária em 100 anos, há aqueles que ainda colocam em dúvida a eficiência das vacinas e as medidas protetivas, com o uso de máscaras.
Felizmente, com o engajamento da maior parte dos brasileiros e a disponibilização de vacinas, a pandemia começou a perder força. Tanto o número de casos quanto o de mortes estão em queda. Bem distantes dos momentos mais graves, quando, diariamente, mais de 4 mil brasileiros perdiam a vida para a doença. Os óbitos, em média, têm girado próximo de 500, ainda assim, um saldo preocupante. É preciso que essa estatística seja zerada, para que, enfim, possamos respirar aliviados. Isso passa pela agilização do programa de imunização, já que apenas 45% da população está com a proteção completa.
É importante ressaltar que o país está longe de baixar a guarda. Muito pelo contrário — somente nos Estados Unidos morreu mais gente do que aqui. O relaxamento de todas as medidas sanitárias que se vê nos estados precisa ser conduzido com todo o rigor e revisto, se necessário. Mais: o novo coronavírus veio para ficar, e outras pandemias surgirão. Sendo assim, desde já, o governo precisa definir uma estratégia para a vacinação em massa da população no próximo ano. Que não repitamos os erros deste trágico momento.
A tristeza é enorme e o luto, de todos. Os problemas a serem enfrentados são gigantescos. A inflação voltou com tudo, provocando um estrago no orçamento das famílias. O desemprego continua altíssimo, e a pobreza atinge milhões de brasileiros. A normalidade da vida, então, ainda está longe de ser atingida. Que cada um faça a sua parte. E que prevaleça sempre o bom senso e o respeito. As sequelas da pandemia serão sentidas por muito tempo.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.