Opinião

Reindustrialização em um cenário de incertezas

Precisamos gerar empregos de qualidade, erradicar a pobreza de grande parte da população, distribuir melhor a renda e promover o crescimento

empresário e presidente do Conselho de Administração da Abimaq
JOÃO CARLOS MARCHESAN - Administrador de empresas
postado em 11/10/2021 06:00
 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
(crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)

“A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes”. A frase atribuída ao filósofo escocês Adam Smith retrata bem a necessidade do Brasil de hoje. Precisamos gerar empregos de qualidade, erradicar a pobreza de grande parte da população, distribuir melhor a renda e promover o crescimento. Nesse sentido, e especialmente no contexto atual, a indústria deve ter um papel muito relevante para o desenvolvimento do Brasil.

Incentivar a indústria significa incentivar a criação de emprego, melhores salários, crescimento econômico, melhor distribuição de renda, especialmente pela correlação com demais macrossetores, como o agropecuário, o extrativo mineral e o de serviços. Investir na indústria significa investir nas cadeias produtivas e gerar crescimento como um todo. Historicamente, todos os países que lograram êxito no desenvolvimento tiveram a indústria como um fator preponderante.

Entendemos a reindustrialização e a defesa da indústria como um instrumento necessário para estimular o investimento produtivo, seja para fortalecer setores estratégicos existentes, seja, principalmente, para permitir o surgimento de novos setores inovadores essenciais para a sofisticação produtiva, garantindo condições de superar a curva de aprendizagem e atingir escala adequada de produção. Esse instrumento não deve, entretanto, ser utilizado como mera compensação de desequilíbrios macroeconômicos, devendo estar estrategicamente coordenado com a política macroeconômica.

Sabemos que o Brasil enfrenta um forte processo de desindustrialização e que precisa inverter essa situação, por meio de um projeto de reindustrialização com ênfase nas mais modernas tecnologias, como a manufatura avançada e a indústria 4.0, definindo uma transformação na indústria de máquinas, integrando inteligência artificial, Big Data e internet das coisas.

A indústria de máquinas e equipamentos é parte importante do setor de bens de capital, categoria que se destaca pelo seu papel como difusor de progresso técnico ao estar presente em todas as cadeias produtivas da economia. Sua presença aumenta consideravelmente os efeitos de encadeamento, ampliando o mercado interno e, consequentemente, o potencial de geração de emprego qualificado e renda.

Só quem tem conhecimento do que significa a indústria para o desenvolvimento de um país pode ter a noção precisa de qual prejuízo, sob todos os pontos de vista, a desindustrialização pode causar. Sabemos que o Brasil vem, desde meados da década de 1980, em processo contínuo de deterioração da sua estrutura produtiva. A atual participação da indústria manufatureira no PIB é de apenas 11%, enquanto países no mesmo estágio de desenvolvimento atingem índice em torno de 25%.

O baixo nível de diversidade e sofisticação da atividade produtiva inviabiliza o desenvolvimento de serviços empresariais e, consequentemente, a ampliação da renda per capita nacional. O Brasil vem registrando, nas últimas décadas, baixo crescimento econômico e taxa de investimento aquém da necessidade de um país em desenvolvimento.

Para crescer a taxas acima de 3,5% ao ano, sustentadamente, é imperativo investimentos da ordem de 25% do PIB ao ano. É preciso um modelo de desenvolvimento que leve em conta o potencial de se construir um novo projeto de nação e, diante disso, ressaltar o papel da indústria. Mundialmente, o Brasil é um dos poucos países que tem todas as condições para esse projeto. Porque é um país que tem forte demanda reprimida na área de infraestrutura, o que pode ser uma grande oportunidade para o crescimento. Apesar da desindustrialização, ainda é o maior pátio produtivo da América Latina, e também tem mercado e economia em escala suficiente para reverter esse cenário.

Nós entendemos que os eixos da reindustrialização passam por investimento forte. Estamos hoje abaixo de 15% da formação bruta de capital fixo sobre o PIB e deveríamos estar a pelo menos 25%. Isso nos faz entender que não temos um bom ambiente de negócios, temos insegurança jurídica alta e as reformas estruturais ainda não aconteceram. Reduzir o Custo Brasil é um ponto importante e fundamental para colocarmos a indústria no seu devido lugar, gerando crescimento e desenvolvimento para o país.

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