OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — A bruxaria dos marqueteiros políticos

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
postado em 14/10/2021 06:00

Capazes de transformar água em óleo e de fazer um jumento subir a rampa do palácio com faixa verde e amarela, os grandes marqueteiros do país ganharam fama internacional depois da redemocratização do Brasil, tanto pela expertise nas artes ilusórias das campanhas quanto pela capacidade de contornar quaisquer fronteiras da ética profissional, sendo, por isso, requisitados por nove em cada 10 mandatários da América Latina.

Lá, como aqui, o vale tudo e as práticas desonestas são permitidas, quando está em jogo a eleição ou reeleição desses típicos governos. O nosso país passou, então, a exportar o jeitinho brasileiro de fazer campanha política, ensinando, lá fora, as melhores e mais ardilosas maneiras de esticar a corda e vender gato por lebre. Com isso, não tardou também o aparecimento de grandes escândalos políticos, tal como ocorria no Brasil, envolvendo esses profissionais da mídia, seguindo os mesmos esquemas montados aqui e que rendiam uma enxurrada de votos a seus clientes.

A receita era simples: grandes empresas, cooptadas pelos governos, em troca de obras públicas superfaturadas, bancavam tudo, até mesmo os gastos mais inusitados, em troca de outros bilhões que viriam, indiretamente, dos próprios eleitores ludibriados. Eram tão parecidas as práticas criminosas que até uma grande empresa brasileira, que recentemente mudou de nome para não prejudicar seus negócios e esteve envolvida até ao pescoço com a Operação Lava-Jato, era usada para entrar de sócia no estelionato eleitoral.

Dinheiro sujo, por inércia, só pode eleger candidatos também sujos, dispostos a vender a mãe para galgar o poder. Não surpreende que, nos últimos anos, tanto o Brasil quanto muitos países vizinhos tiveram a má sorte de eleger presidentes, que, para dizer o mínimo, deveriam exercer o cargo diretamente dos presídios.

O mal que esses profissionais da propaganda política fizeram ao país e ao continente, enganando eleitores, enfraquecendo as democracias e levando muitas nações vizinhas ao colapso político, social e econômico, por certo, não poderá ser esquecido, compondo hoje uma das páginas mais sombrias e desonrosas da história dos nossos tristes trópicos.

Ao contrário do que se sucedeu no Brasil, onde nossa jabuticaba, representada pela Justiça Eleitoral, criada para aliviar e vetar quaisquer penalidades aos políticos locais, em parte da América Latina, alguns tribunais cuidaram de processar e punir os candidatos fabricados pelos mágicos da propaganda, bem como seus financiadores, inclusive, a grande empresa brasileira onipresente em boa parte dessas tramoias.

Por essas bandas, os mesmos candidatos, useiros e vezeiros dessas práticas bandidas, estão aí de volta, leves e soltos. Com a ficha corrida ou, como se diz no jargão policial, com a capivara limpa. Surpreende que, com toda essa engenhosidade, esses marqueteiros milagrosos não lograram alcançar o que seria mais simples que é devolver aos partidos e a seus candidatos a tão necessária credibilidade. Pelo contrário, o uso desmedido de propaganda enganosa nas campanhas, difamando e injuriando adversários, obteve como resultado apenas um maior afastamento dos eleitores e um descrédito total com relação aos políticos.

Essa crise de identidade entre os partidos e os eleitores persiste apesar dos bilhões de reais gastos em propaganda. O que parece é que, quanto mais os partidos gastam em propagandas, mais os eleitores se mostram ressabiados e ariscos. Não se pode iludir por muito tempo a opinião pública. Um dia os fatos podem vir à tona e tudo desmoronar para sempre.

É sabido que políticos, assim como todo o homem público, uma vez caídos em desgraça perante a população, apanhados em falcatruas e outras travessuras, dificilmente voltam a recuperar a antiga credibilidade. Para a maioria das mais de três dezenas de legendas políticas que orbita de modo parasita em torno do Poder Legislativo, não houve, até hoje, mandingas e outros feitiços, elaborados por esses bruxos do marketing capazes de reaproximarem a população dessas agremiações e, principalmente, desses políticos, que fazem da representação popular um negócio polpudo para si e para os seus.

A situação chegou a um tal paroxismo que, quanto mais dinheiro entra nos partidos e nos bolsos dos seus caciques, mais a população toma distância dessa gente. A verdade é que, para muitos desses atuais caciques políticos, pouco importa o que a população e os eleitores pensam e sentem com relação a eles. Desde que consintam que os partidos aumentem, a cada eleição, os recursos para fundos partidários e eleitorais e para as emendas de bancada, individuais e de relatores e outros benefícios, pouco importa o que a justiça eleitoral denomina de eleitores.

Ocorre que esse toque de Midas, capaz de transformar tudo em ouro, inclusive a dignidade, nas mãos dos políticos vai se transformando numa espécie de maldição, fazendo com que tudo o que eles toquem se transforme em ouro de tolo, cheio de ferrugem e veneno, afastando, imediatamente, todos os cidadãos de bem.

 

A frase que foi pronunciada

“Pelo andar da carruagem, o isolamento político de Guedes é um excelente sinal”
Dona Dita


História de Brasília

Há um ano, aproximadamente, falamos na numeração das quadras da W-3, e houve a promessa de que isto seria feito. Chegou-se a fazer um estudo procurando corrigir anormalidades, que tiveram resultados excelentes.
(Publicada em 10/2/1962) 

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