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Sem espaço para erros

Correio Braziliense
postado em 14/10/2021 06:00

O Brasil, finalmente, chegou a marca de 100 milhões de pessoas com as duas doses ou dose única da vacina contra a covid-19. Isso representa 62,5% dos adultos com mais de 18 anos, e 47,11% da população geral. A boa notícia vem acompanhada da queda de transmissão do novo coronavírus. Segundo o Imperial College, de Londres, o índice está em 0,60, o menor desde abril de 2020. Ou seja, cada 100 pessoas infectadas contaminam outras 60. Trata-se de um alívio e tanto.

Esse quadro alvissareiro, contudo, poderia ter chegado com muito mais antecedência, não fosse a política infeliz do Ministério da Saúde para a compra e a distribuição de imunizantes. A politização de um tema totalmente técnico e sensível — pois tem a ver com vidas — fez com que o país superasse a trágica marca de 600 mil mortes pela covid-19. Certamente, sem o negacionismo e a defesa de medicamentos ineficazes contra a doença, tantas famílias não teriam sido destruídas.

O Brasil jamais deixará de lamentar todas essas perdas. Mas é preciso ir adiante, pois são muitos os desafios colocados ao país. O principal deles, a volta total dos estudantes da rede pública às salas de aulas. Em muitos estados, esse retorno ainda é opcional, agravando as desigualdades na educação, cujos custos para a produtividade futura da economia serão enormes. O conhecimento perdido nos muitos meses de escolas fechadas levará anos para ser recuperado.

O papel do poder público, portanto, será fundamental. E é aí que mora o perigo. Da mesma forma que errou na avaliação da gravidade da pandemia, o Executivo federal não mostra nenhuma disposição ao diálogo para coordenar à volta total às aulas. Governadores e prefeitos, seguindo análises específicas regionais, estão tomando as próprias decisões. E têm respaldo para isso. Porém, é vital que o Ministério da Educação participe desse processo ante o atraso no aprendizado e o seu impacto para o país.

Também é fundamental preparar o Brasil para o contínuo enfrentamento da covid-19. Mesmo que o fim da pandemia seja decretado nos próximos meses, como prevê a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o vírus continuará presente no dia a dia dos brasileiros. Os especialistas são enfáticos quanto a isso. Para eles, todos têm um encontro marcado com a doença. A covid-19 deverá se manter como patologia endêmica e passível de surtos mais localizados. Por isso, é necessário que o maior número possível de pessoas estejam vacinadas a fim de evitar casos graves.

O Ministério da Saúde assegura que dispõe de mais de 300 milhões de doses de vacinas para reforçar a proteção dos brasileiros em 2022. Resta saber se o programa nacional de imunização terá a seriedade de sempre ou se será marcado por recaídas políticas, que tanto mal fazem à população. As lições foram dadas e a fatura arcada pelo país, pesadíssima. Repetir o desastre recente será inaceitável. O Brasil não merece isso.

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