Renata Maffezoli - Coletivo de Mulheres Jornalistas Profissionais do Distrito Federal
André Ricardo Nunes - Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA-DF)
A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-DF) e o Coletivo de Mulheres Jornalistas do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal vêm por este meio denunciar a abordagem de episódio de violência (estupro coletivo) contra uma mulher ocorrido na cidade de Águas Lindas (GO) feita na capa do jornal Correio Braziliense nessa quinta-feira, 14 de outubro do corrente. Causou-nos indignação a ilustração que mostra uma mulher branca, acuada, e mãos pretas a cercando e tocando.
Mais uma vez, vemos o racismo estrutural prevalecendo e formando imagens que se perpetuam em nossa imprensa. Ainda que a cobertura dos dias anteriores não tenha apontado nenhuma característica de ordem racial, a ilustração faz exatamente isso. Utiliza o imaginário coletivo racista para apontar quem é vítima de violência e quem pratica violência e fornece uma interpretação que reforça o racismo presente na sociedade brasileira.Também destacamos a forma sensacionalista com a qual o caso foi tratado.
O relato em primeira pessoa de uma mulher que sofreu estupro coletivo na capa da edição e com destaque é um potencial gatilho para outras mulheres que já passaram por esse tipo de violência. Entendemos que a espetaculização da violência de gênero não se faz necessária para denunciá-la e combatê-la. Ao contrário, pode trazer ainda mais dano para essa e tantas outras vítimas do machismo estrutural embrenhado em nossa sociedade. Diante da gravidade do fato exigimos, mais uma vez, da direção do Correio Braziliense, que esses episódios não se repitam.
Cobramos que seus e suas profissionais sejam capacitados e capacitadas para identificar e evitar abordagens racistas nas páginas deste jornal, que tem se mostrado acessível a essa pauta. Ressaltamos, ainda, a importância de aprofundar o debate sobre a cobertura de estupros, feminicídios e outras violências de gênero, de modo que o jornalismo sirva para combater tais opressões.
Solicitamos o reconhecimento público do erro, com o espaço devido na primeira página. Cobramos, ainda, das forças de segurança e do poder público que o crime seja devidamente investigado e os envolvidos, punidos; que a vítima seja preservada e a ela oferecido acompanhamento médico e psicológico. Reforçamos, também, a importância de que o Correio Braziliense e demais veículos da imprensa sigam vigilantes na promoção de uma cultura de paz e de combate à violência, à misoginia e ao racismo.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.