Em imagens publicadas na capa do jornal O Estado de S. Paulo, em sua edição dessa sexta-feira, 15 de outubro, professores da rede pública local exibem o corpo completamente pichado, inclusive o rosto, com mensagens pedindo mais valorização, respeito e amor pela categoria, num apelo desesperado pelo reconhecimento de uma profissão que, nos últimos anos, passou a ser incluída como um trabalho em que o risco de agressões e morte é cada vez mais presente.
Aparentemente, as fotos mostrando profissionais da educação teriam alcançado o objetivo de chamar a atenção para o desprestígio com que o magistério sempre foi tratado pelo Estado e pelas autoridades políticas. A prova desse desprezo é que, entra e sai ano, as manifestações contra os salários e as condições de trabalho a que os professores são submetidos em todo o país persistem, sem solução à vista.
Ocorre que, numa análise mais detida e sem o falso sentimentalismo, muitas manifestações suscitam o que as fotografias mostram: pessoas com o corpo coberto de rabiscos e de pichações, inclusive os rostos, passam uma ideia de total desrespeito pela figura humana, submetendo o corpo e a própria imagem às agressões que, muitas vezes, enxergamos nas garatujas espalhadas por todas as cidades brasileiras e que denotam desejos niilistas de destruição e de desprezo urbanos.
Pichações são agressões urbanas que devem ser combatidas tanto pela Justiça quanto por processos educativos. A violência urbana, em todas as suas formas, físicas ou não, pode ser confirmada e estampadas em prédios e muros nos territórios dominados por gangues de delinquentes. O que os professores não perceberam de imediato, talvez incentivados por marqueteiros e propagandistas de estúdio, no afã de mostrar o produto apelativo para algum veículo da mídia, é que, ao exibirem seus corpos cobertos de garatujas, no melhor estilo pichação, e que afinal retratam o próprio submundo do crime, serviram como modelo para uma atividade ilegal, promotora da poluição e do estresse urbano, que faz de nossas cidades um lugar a ser evitado.
O respeito aos professores pode ser reclamado usando-se daquilo que lhes é sua principal ferramenta de trabalho: a educação. Ao se permitirem ser pichados, em nome do que quer que seja, esses professores se colocaram em segundo plano, desrespeitando-se a si próprios e, portanto, perderam as condições mínimas de reclamarem das péssimas condições de trabalho atuais. Quem a si não respeita, não pode exigir tratamento respeitoso.
O que as imagens mostram, de forma ostensiva e sem qualquer reflexão das consequências, é a repetição do abominável modelo de bullying, presente em toda a parte nas escolas e que está por detrás, inclusive, de crimes de morte. Ao se permitirem ser enxovalhados dessa forma, submetendo a própria face à desonra dos rabiscos, como que marcados a fogo e ferro, o que esses professores podem, até subliminarmente, ter alcançado, na mente de muitos é que vale a pena prosseguir nesse desprezo contra uma categoria que não usa da imagem e da força da educação para ensinar o que, pelo menos, não se deve fazer. É uma pena, e fica aqui a lição no Dia dos Professores de 2021.
A frase que foi pronunciada
“O verdadeiro professor defende os seus alunos contra a sua própria influência.”
Amos Alcott
Editora Telha
Por sugestão do amigo Silvestre Gorgulho, anunciamos o lançamento do livro de Márcia Turcato, Reportagem — da ditadura à pandemia. Histórias desde 1964 aos segredos dos bastidores da política candanga, enriquecidos com o jogo de cintura exigido do bom jornalista em momentos surpresa. São 112 páginas, e custa só R$ 35.
História de Brasília
Com esta numeração, a pessoa, de posse do endereço, conceberia a localização da quadra procurada, pela numeração da superquadra, que seria equivalente. (Publicada em 10/2/1962).
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