A violência contra mulheres passou de todos os limites. Não é mais possível que tantas jovens, mães, avós, tias, irmãs percam a vida simplesmente pelo fato de serem do sexo feminino, por serem consideradas propriedades. A pandemia do feminicídio deve ser enfrentada com todo o rigor. Poder público, Judiciário e sociedade têm a obrigação de agir com rapidez para conter essa chaga. De nada adianta ter uma legislação de Primeiro Mundo, se os crimes continuam ocorrendo em escala ascendente, descontrolados, como se as vidas de mulheres não valessem nada.
O descontrole em relação ao feminicídio é tamanho, que, na capital do país, sede dos Três Poderes, 18 mulheres foram mortas neste ano, cinco a mais do que no mesmo período de 2020. Esses, no entanto, são os casos registrados como manda a lei, pois se sabe que a violência contra elas é muito maior do que mostram as informações oficiais. Infelizmente, as delegacias, sobretudo as de cidades menores, não estão preparadas para lidar com esses crimes, muitas vezes, pelo machismo que está por trás dos ataques físicos, sexuais, patrimoniais, psicológicos e morais, que acabam em morte.
Dados do mais recente Observatório de Segurança apontam que cinco mulheres são assassinadas por dia no Brasil por questão de gênero. Dos crimes, 90% são cometidos por atuais companheiros ou ex. Ou seja, por homens muito próximos. Assusta saber que boa parte das vítimas sequer teve tempo de registar alguma queixa ou de dar um alerta sobre a violência que lhes tirou o direito à vida. Mais: os assassinos, em vários casos, descumprem medidas protetivas. Isso acontece, principalmente, porque não há nenhum acompanhamento dos casos. Quando a polícia chega, o pior aconteceu.
Sem fazer esse controle rígido das medidas protetivas, o Estado estará dando aval ao massacre de mulheres. Também falha o Judiciário ao não manter na cadeia os assassinos. Mesmo condenados, parcela significativa desses monstros está solta, prontos para fazer as próximas vítimas. Portanto, é preciso rigor maior no cumprimento da lei. É vital pôr fim à percepção de que as mortes são apenas estatísticas, de que a misoginia entranhada na sociedade se sobrepõe ao descalabro que tomou conta do país. De novo, não se pode morrer apenas por ser mulher, por fazer valer o direito de escolher o seu futuro.
Mudar esse quadro macabro passa por um amplo processo de educação, a única forma de extirpar a cultura do machismo, que mata. A Lei Maria da Penha foi um avanço importante e deve ser preservada e aprimorada. Cabe, então, aos que estão no Poder não permitir que setores reacionários disseminem o ódio a quem quer que seja. A liberdade de escolha deve prevalecer sempre, e o respeito é regra. Assassinos de mulheres não podem ser tratados como simples bandidos. São o que há de pior, matam por preconceito, porque acreditam ser donos de suas vítimas.
Mulheres, não se intimidem. Ao menor sinal de violência, denunciem. Não acreditem no arrependimento do agressor, não deem ouvidos à ladainha de que episódios semelhantes não se repetirão. Segundo especialistas, todos os casos mostram que os ciclos de agressões vão se repetir com mais frequência, e sempre de forma mais grave. Cabe às redes de proteção a essas vítimas estimulá-las a procurar ajuda. O silêncio e a omissão só favorecem os assassinos. Vamos todos dizer basta aos feminicídios!
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.