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Novo patamar na coleta seletiva do DF, mais resultados para todos

Correio Braziliense
postado em 09/11/2021 06:00

Por ALINE SOUZA DA SILVA - Presidente da Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop/DF)

O mundo discute em Glasgow, na Escócia, a 9 mil quilômetros de Brasília, o que podemos fazer para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. O simples fato de ocorrer esse debate, envolvendo especialistas de todos os continentes, mostra que evoluímos enquanto sociedade, buscando soluções para diminuir o impacto ambiental de nossas decisões de consumo. Mas aqui, nas ruas do Distrito Federal, há ainda muito a avançar e uma proposta aprovada pela Câmara Legislativa pode nos ajudar a aperfeiçoar o sistema.

O Brasil começou a entrar nesse jogo nos anos 1990, quando realizou a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, base para as seguintes Conferências do Clima. De lá para cá, colocamos no nosso dia a dia muitas preocupações, como o cuidado com a reciclagem e a coleta seletiva. E é justamente neste ponto, a necessária atenção ao que se faz com nossos resíduos domiciliares, que a Câmara sugere uma mudança de patamar no reaproveitamento de material.

O projeto de lei aprovado dará a cooperativas de catadores mais protagonismo na coleta e beneficiará a sociedade como todo, garantindo economia de recursos públicos que hoje são literalmente jogados no lixo. A proposta cria no DF a Política Pública Brasília Lixo Zero, Arquitetura Sustentável e Energia Renovável, valorizando um dos pontos previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos: a necessidade de os municípios incluírem cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis no processo de coleta seletiva. Pela proposta aprovada, que aguarda sanção do governador, a coleta de lixo no Distrito Federal, para fins de reaproveitamento, será realizada exclusivamente por redes de cooperativas e cooperativas de catadores.

Hoje, a coleta seletiva no DF é realizada de forma mista: uma pequena parte conta com o envolvimento de cooperativas, mas a maior parte dos contratos do Serviço de Limpeza Urbana (mais de 80%) são com empresas privadas, que também realizam a coleta de orgânicos e rejeitos. Enquanto as cooperativas têm um aproveitamento de 85% na triagem, o resultado da coleta pelas empresas é de apenas 38% de aproveitamento do material coletado.

Os números do SLU mostram que a contratação de empresas para o serviço de coleta seletiva não tem trazido os resultados desejados. Das 380 mil toneladas de resíduos sólidos coletados no primeiro semestre do ano, apenas 16 mil foram efetivamente recicladas, um sétimo do esperado no Plano Distrital de Gestão de Resíduos Sólidos do DF, elaborado pelo SLU em 2017.

No processo atual, as empresas recebem por tonelada na coleta de orgânicos e por rota na coleta de recicláveis. O resultado é que pouco material reciclável chega às Centrais de Triagem do DF, como alertaram as cooperativas, e mais de 90 mil toneladas de recicláveis acabam sendo aterradas por semestre.

É muito resíduo jogado fora. Além do impacto ambiental provocado e da redução da vida útil dos aterros, o valor enterrado pelo GDF representa aproximadamente R$ 11 bilhões ou 10 mil salários mínimos. Por outro lado, minha prática mostra que o potencial material recuperado poderia voltar ao mercado, gerando uma renda de quase R$ 150 milhões para os catadores locais.

Estamos falando a mesma língua que está colocada nas mesas de negociação em Glasgow. O indicador de excelência na atividade de reciclagem das cooperativas e associações é significativo para quem deseja um planeta mais sustentável. Mais reaproveitamento do lixo urbano, menor uso de matérias-primas virgens, menor consumo de energia e água, menor emissão de gases de efeito estufa e mais renda para as famílias dos cooperativados. Precisa de mais argumentos para sancionar a lei?

A realidade mostrou o quanto o jogo pode ser de "ganha-ganha" para todos os envolvidos: catadores e sociedade. Queremos ser mais que catadoras e catadores, nos consideramos agentes ambientais, que, por meio de sua atividade digna, com um trabalho pedagógico sobre sustentabilidade, organizados em cooperativas, se tornam donos de seu negócio. E a sociedade, com o melhor aproveitamento do que descarta e melhor uso dos impostos pagos ao governo.

Estamos prontos para o desafio. Na minha vida de catadora de resíduos, vejo que temos toda a capacidade para ampliar a coleta seletiva do Distrito Federal, melhorando as condições de vida da sociedade e ajudando a orientar a separação do nosso lixo. Todos ganharemos!

 

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