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Correio Braziliense
postado em 13/11/2021 00:01

Maquiavélicos

O dicionário indica o adjetivo secreto como: que está oculto; não divulgado; não revelado. Mais claro do que isso, impossível. A turma de Arthur Lira, presidente da Câmara, incrustrada nos meandros das falcatruas oficiais, tem como justificativa para o orçamento secreto, benesses aos mais pobres, aos desamparados pela crise sanitária e econômica que ora atravessamos. De repente, vimos um punhado de deputados com o espírito bondoso de Madre Tereza de Calcutá. Gente humilde com o povo, corações pesarosos com a miséria humana. Vendo as expressões de suas faces nos noticiários da televisão, e nas fotos de jornais, querem passar a imagem da mais pura bondade, como se não entendessem, como não se entender o gesto nobre deles de remunerar os necessitados. Mas é só perscrutar seus olhares para se enxergar o caráter dessa caridade toda. No fundo, o tipo de política que permeia por essas faces é disfarce que usam o termo política no sentido maquiavélico da esperteza, do conchavo. Não concebem soluções para o Brasil que não sejam manipuladas, centralizadas em suas mãos, burocratizadas por decisões que lhes convêm. Querem institucionalizar o subterfúgio. E aí, o perigo é que essa maroteira acabe virando uma religião. Tudo sacralizado. A verdade é que, se telefonarmos para o gabinete de algum desses deputados e indagarmos: "Tem algum probo aí?", responderão: "Não senhor, aqui, não tem ninguém com esse nome, não".

Eduardo Pereira,

Jardim Botânico

PT

Quando surgiu, na década de 1980, como força de combate à ditadura nos estertores do regime militar, o Partido dos Trabalhadores representava a vanguarda política não apenas em termos de oposição ao establishment. A sigla trazia também promessas de um novo padrão de ética no trato com a coisa pública e um olhar prioritário para as fatias mais pobres da população. Egresso do movimento sindical para formar a agremiação ao lado de operários, intelectuais e católicos de esquerda, entre outras forças, Lula virou líder e símbolo maior desse movimento. Como se sabe, o PT prosperou, ganhando espaço em prefeituras importantes, nos governos estaduais e no Congresso, até chegar à Presidência da República. A legenda se instalou no Planalto com Lula. Por treze anos o PT permaneceu ali, com os dois mandatos de Lula e, no restante do período, com uma sucessora escolhida a dedo por ele, Dilma Rousseff. A conquista do poder levou inevitavelmente a ser testadas na prática as bandeiras que a legenda bradava enquanto oposição. Deu no que deu: um desastre. Aos anos de prosperidade do primeiro mandato de Lula se seguiram escândalos bilionários de corrupção e a bancarrota econômica, da qual o país ainda não se recuperou totalmente. Lula, depois de amargar 580 dias na carceragem, de volta às ruas, por meio de uma pirueta benevolente e fraterna do Supremo Tribunal Federal (STF), a desandou o atual governo, repisou o mantra de que é vítima de complô das elites e jurou mais uma vez vingança a Sergio Moro, o responsável pela sua condenação. O ex-presidente ainda é o nome mais forte da oposição, conforme mostram as pesquisas. Fora os aplausos da claque dos convertidos, os discursos caíram no vazio. Lula agora mais desagrega de que une, basta conferir os seus últimos encontros com seus correligionários. Antigos aliados reclamam da insistência em priorizar interesses pessoais e os do PT, como condição para formar um frente de oposição a Jair Bolsonaro. Até mesmo dentro da sigla começam a surgir vozes dissonantes, o que era impensável alguns anos atrás. Resultado: o Lula livre aprisiona hoje a esquerda em uma encruzilhada de difícil solução.

Renato Mendes Prestes,

Águas Claras

Primeiro encontro

O primeiro encontro real que eu tive, com a vida, foi tranquilo, equilibrado. Eu morava numa casa na Rua Almirante Gonçalves 29, em Copacabana, a poucos passos da praia. Eu tinha 18 anos, ela 24, era filha de um americano e comissária da Aerovias Brasil, que, depois de um envolvimento arrebatado comigo, acabou refletindo, com toda a razão, que eu era uma perda de tempo, sem eira e nem beira para atender às suas naturais aspirações casadoiras... De qualquer modo, repensando agora essa experiência longínqua e maravilhosa, me vieram inevitavelmente à cabeça as palavras sonhadoras e oportunas de Casimiro de Abreu: — Oh! que saudades que eu tenho, da aurora da minha vida... que os anos não trazem mais...

Lauro A. C. Pinheiro,

Asa Sul

Sergio Moro

A Operação Lava-Jato da Polícia Federal revelou um esquema de corrupção bilionário na Petrobras. Alguns executivos da petroleira, das empreiteiras e parlamentares foram investigados e presos. O ex-juiz Sergio Moro, que fazia parte da força-tarefa da Lava-Jato, ficou conhecido pelo combate à corrupção no Brasil. Moro se filiou ao Podemos e poderá disputar as eleições presidenciais com Bolsonaro, Lula, Doria, Ciro e ouros personagens da política. Será curioso ter um ex-juiz participando ativamente da política, com aqueles que ele mesmo julgou e prendeu. Como ex-ministro da Justiça, Moro percebeu como as coisas funcionam no Palácio do Planalto e como o Congresso negocia com o primeiro escalão do poder. Manobras difíceis estão aguardando Moro.

José Carlos Saraiva da Costa,

Belo Horizonte (MG)

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