O esporte é uma prática, em sua essência, inclusiva. Pode ser praticado individualmente ou coletivamente, de forma amadora ou profissional. Quantas vidas o esporte já salvou? Casos de pessoas que já não tinham razão de viver e encontraram em alguma atividade esportiva ou na paixão por um clube motivos para continuar não são raros. Anônimos e famosos. No caso do esporte profissional, a caminhada não foi fácil para a quebra de vários tabus.
Tanto que as mulheres só começaram a disputar os Jogos Olímpicos em 1900, em Paris: 22 guerreiras representavam apenas 2% dos atletas. E somente na Olimpíada de Tóquio, realizada em 2021 por causa da pandemia, a igualdade com os homens foi alcançada. Em 2012, foi a primeira vez que as mulheres competiram em todas as modalidades. Mais recentemente, o preconceito tem se voltado a transgêneros, que precisam lutar muito para poder exercer o direito de ser um atleta de alto nível.
Outra dura realidade é em relação aos negros, que só passaram a competir nos Jogos em 1904, em Saint Louis (EUA), na terceira edição. Foram humilhados, sendo obrigados a correr descalços e vestindo chapéus. E a praga do racismo insiste em permanecer nas competições, como na última edição, em Tóquio, quando um diretor esportivo de ciclismo da Alemanha foi enviado de volta ao seu país depois de agressões verbais a atletas africanos.
Apesar de todas essas mazelas, que são reflexos da sociedade como um todo, o esporte apaixona o mundo há séculos e movimenta bilhões de dólares a cada ano. No Brasil, o futebol mexe com o país inteiro. Rivalidades nacionais e regionais fazem parte da cultura do país. Prova disso são os grandes públicos que já estão sendo registrados nos estádios com a flexibilização na maior parte das cidades.
Só que, disfarçados de torcedores, muitos criminosos voltaram a mostrar a cara, sem medo algum de punição. Nos últimos jogos do Atlético, no Mineirão, por exemplo, casos de assédio sexual dentro do estádio foram denunciados. Uma mulher foi mordida por não querer mostrar uma foto, outra foi agarrada e beijada à força, enquanto uma terceira ficou sendo importunada na fila do bar.
Caso de racismo e violência também foi registrado depois que um homem chamou a funcionária de um bar de "lixo" e "macaca", por ela não ter servido uma cerveja em uma área na qual ela não poderia entrar. Depois do jogo, ele a cercou perto do banheiro e lhe aplicou uma rasteira, resultando em luxação no ombro e no pulso da trabalhadora. Ela registrou um Boletim de Ocorrência e as imagens de vídeo estão à disposição da Polícia Civil, que investiga o caso. Em novembro de 2019, um segurança do Mineirão também foi vítima de injúria racial por torcedores atleticanos. O caso foi extinto pela Justiça em maio.
Tanto a Minas Arena, consórcio que administra o estádio, quanto o Atlético divulgaram notas de repúdio sobre os fatos ocorridos. O clube promete atuar junto às autoridades para punição dos infratores, e o Mineirão informou que disponibilizou as imagens para as autoridades policiais, reiterou seu compromisso com a diversidade e a inclusão e listou ações que promove no estádio para tentar evitar esse tipo de problema.
Mas é pouco. É preciso que haja uma união de forças — incluindo aí os atletas, que precisam ter consciência do peso que suas imagens têm junto aos torcedores — para que esse tipo de comportamento seja banido da sociedade, não só dos estádios. Clubes, CBF, federações, jogadores, torcedores ilustres, políticos, autoridades policiais...
Todos precisam dar as mãos para que excrescências como essas, ocorridas no Mineirão, não ocorram mais em lugar algum. A punição prevista em lei precisa ser aplicada duramente em quem pratica tais atrocidades. O esporte não pode servir de pano de fundo para violência ou preconceito. Um estádio de futebol não pode ser palco de racismo e violência contra a mulher e nada acontecer. É preciso dar uma basta.
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