opinião

Um intelectual brasileiro

Irlam Rocha Lima
postado em 16/11/2021 06:00

A paz, Domingo no parque, Expresso 2222, Se eu quiser falar com Deus e Super-homem a canção são apenas algumas das letras entre as tantas escritas por Gilberto Gil, ao longo de mais de 50 anos de carreira. Quatrocentas delas foram reunidas por José Miguel Wisnik e receberam comentários do autor no livro Todas as letras. A obra, lançada pela editora Companhia das Letras em 1996, serviu de subsídio na eleição do artista baiano para a Academia Brasileira de Letras.

Obviamente trata-se de algo que deve ser ressaltado, mas a relevante contribuição de Gil, enquanto cantor e compositor, para a cultura brasileira já lhe valeria a condição de imortal que em breve ele passa a ostentar, após a posse na ABL, em solenidade na sede da instituição no centro do Rio de Janeiro. Essa é uma regalia, mais que merecida para um intelectual que brilha igualmente quando se põe a emitir comentários sobre aspectos diversos ligados à vida nacional.

Mas, não é só. Gilberto Gil e Caetano Veloso, companheiro de ofício, foram os criadores do Tropicalismo, movimento que trouxe inovações estéticas e comportamentais ao cenário da — então — bem comportada MPB; e que foi tomado como motivo pela ditadura militar para mandá-los para o exílio em Londres, após prisão em quartéis do Exército, no Rio de Janeiro, entre o final de dezembro de 1968 e meados de fevereiro de 1969.

Gil tem longa ligação artística com Brasília. Ele vem à cidade desde 1975, quando se apresentou aqui com o show Refazenda, ginásio de esportes do Colégio Marista, na 609 Sul. No ano seguinte, estava de volta para, ao lado de Caetano, Maria Bethânia e Gal Costa, apresentar o espetáculo Doces Bárbaros, no Ginásio Nilson Nelson. Depois disso trouxe à capital praticamente todas as turnês, entre as quais as de Realce, Refavela, Luar, e shows temáticos como São João ao Vivo (Concha Acústica), Fé na festa (Ceilambódromo) e Kaia Na Gan Daya, em homenagem, a Bob Marley, no Camping Show.

Desde que veio aqui pela a primeira vez, quando o entrevistei no Brasília Palace Hotel, tenho mantido contato com Gil. Sempre afável e acolhedor, me atendeu mesmo após apresentações nos mais diversos locais — inclusive na mais recente, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, quando ele e Caetano comemoraram 50 anos de trajetória artística. Certa vez, no período em que ocupou o cargo de ministro da Cultura, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a convite dele, estive em seu gabinete, onde batemos papo durante 40 minutos sobre diferentes aspectos das manifestações culturais.

 

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