VISÃO DO CORREIO

Pandemia dos não vacinados

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, no mais recente boletim sobre a doença, divulgado na quinta-feira, dizem que ainda é cedo para decretar o coronavírus sob controle

Correio Braziliense
postado em 21/11/2021 06:00 / atualizado em 22/11/2021 01:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Viagens, festas de fim de ano, carnaval... Há muita gente eufórica com o possível fim da crise epidemiológica no Brasil. O otimismo se sustenta na contínua redução dos indicadores de gravidade da crise epidemiológica. Desde julho, as taxas de casos, as internações em unidades de terapia intensiva e as mortes por covid-19 caem no país, à medida que a vacinação avança. Mas pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, no mais recente boletim sobre a doença, divulgado na quinta-feira, dizem que ainda é cedo para decretar o coronavírus sob controle. E alertam para a quarta onda que ocorre neste momento em cerca de 20 países europeus, fenômeno que classificam como "a pandemia dos não vacinados".

Por trás da advertência está o temor de que medidas de flexibilização adotadas recentemente por prefeitos e governadores provoquem um retrocesso e levem o Brasil a enfrentar tragédia semelhante. No país, hoje, cerca de 60% da população total concluiu o ciclo vacinal — duas doses ou mais de imunizante contra a covid-19 ou injeção única da Janssen. Ainda é pouco, avaliam. Na Europa, observam cientistas da Fiocruz, a nova onda fustiga até mesmo nações com taxas de imunização completa mais avançada, como Alemanha (67%), Áustria (63,2%) e Lituânia (65,2%), que estão às voltas com nova onda não apenas de casos, mas também de internações e óbitos.

Na Alemanha, que registrou o recorde de 65.371 novos casos na quinta-feira, maior número desde o início da pandemia, os hospitais estão cada vez mais lotados de pacientes. Diante da situação, a chanceler Angela Merkel anunciou uma série de restrições que atingirá em cheio os não vacinados. Pelas novas regras, que já estavam em vigor em Berlim e agora serão estendidas a todo o país, em locais onde as taxas de hospitalização excederem um determinado limite, apenas as pessoas imunizadas e as que se curaram da covid-19 poderão ter acesso a restaurantes e eventos públicos, culturais e esportivos. Haverá, ainda, exigência de passaporte sanitário para uso de transporte público e para entrar no local de trabalho.

Na Áustria, onde os hospitais começam a ficar sobrecarregados com a explosão da quarta onda, já havia restrição para que os não vacinados não saíssem de casa. Agora, o governo decidiu adotar medidas ainda mais drásticas, como o confinamento, válido para toda a população, a partir de amanhã. Também determinou que a vacina contra a covid-19 será obrigatória a partir de fevereiro, tornando-se o primeiro país a estabelecer a obrigatoriedade da imunização. O premiê Alexander Schallenberg disse que a medida tornou-se inevitável. "Temos que enfrentar a realidade", declarou, em entrevista.

Na União Europeia, além dos três países listados pela Fiocruz, a situação é igualmente dramática na Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Letônia, Luxemburgo, Romênia e Eslováquia. E foi avaliada como "muito preocupante", pelo Centro Europeu de Controle de Doenças, em outros 10 integrantes da UE: Bélgica, Polônia, Holanda, Bulgária, Croácia, República Tcheca, Estônia, Grécia, Hungria e Eslovênia. A nova onda atinge, de forma impactante, ainda, Noruega, Islândia e Liechtenstein, três nações europeias que não fazem parte do bloco. A nova onda é considerada baixa na Itália e na Espanha. E classificada como moderada na França e em Portugal, onde a vacinação está mais adiantada.

No caso do Brasil, para afastar o risco de nova onda, pesquisadores da Fiocruz defendem a realização de campanha para ampliar o ciclo vacinal completo. Recomendam a exigência de passaporte vacinal, como na Alemanha. Ressaltam a necessidade de manutenção de medidas como o uso de máscaras em locais fechados e espaços abertos com aglomeração, a preservação de distanciamento físico e a higiene das mãos. E alertam para o risco de flexibilizações equivocadas com a proximidade das festas de fim de ano, férias e carnaval. A pandemia ainda não acabou, ressaltam.

 

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