Opinião

Best before: opção contra o desperdício de alimentos

Correio Braziliense
postado em 30/11/2021 06:00

João Dornellas - Presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente publicou, em março deste ano, números alarmantes. De acordo com o Índice de Desperdício de Alimentos 2021, somente em 2019 cerca de 930 milhões de toneladas foram descartadas em todo o mundo: 61% nos lares, 26% no segmento da alimentação fora do lar (bares e restaurantes) e 13% no varejo.

O relatório aponta que a maioria dos países latino-americanos não possui informações consistentes sobre o desperdício de comida, mas os pesquisadores conseguiram reunir dados que apontam que o Brasil desperdiça 60 quilos de alimentos por pessoa ao ano.

É assustador pensar em toda essa comida no lixo enquanto milhões passam fome. Sabemos que não há soluções simples para problemas complexos e, nesse caso, são necessárias ações coordenadas em todos os elos da cadeia: produção, distribuição e abastecimento de alimentos. Medidas urgentes precisam ser tomadas, do campo à mesa, e demandam diagnóstico, investimento em infraestrutura e logística, campanhas educativas e outras soluções.

Somente no varejo, 42,5% das perdas de alimentos não perecíveis têm como causa a data de validade vencida, de acordo com pesquisa da Abras (Associação Brasileira de Supermercados). No Brasil, a regra é clara: se passou da data limite, o alimento não pode mais ser comercializado nem consumido, o que pode fazer com que muita comida, ainda em condições adequadas e seguras para o consumo, vá para o lixo.

A União Europeia e países como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá têm regras para a aplicação do conceito de Best Before em suas cadeias, com o objetivo específico de redução de perdas. É um conceito regulatório que indica um período mínimo em que um produto mantém seu sabor e seu valor nutricional, se armazenado de forma adequada e com a embalagem fechada. No entanto, se essa data expirar, não significa que o produto não esteja mais adequado e seguro, mas que deve passar obrigatoriamente por uma análise sensorial antes de ser ingerido — cheirar, provar, observar alterações — avaliações possíveis de serem feitas pelos consumidores.

O tema vem ao encontro do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12.3 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem por proposta reduzir pela metade o desperdício de comida até 2030. A adoção do Best Before deve ser obrigatoriamente vinculada a rígidos programas de qualidade, tais como análise de pontos críticos de controle e boas práticas de fabricação, principalmente em relação a aspectos microbiológicos.

Importante salientar que esse conceito não se aplica a todas as categorias de alimentos, como as altamente perecíveis: carnes in natura, leite pasteurizado, iogurtes, queijos frescos, por exemplo. São alimentos mais suscetíveis a apresentar, após curto período, um perigo imediato para a saúde humana.

Já os produtos "shelf stable", ou seja, aqueles estáveis em temperatura ambiente, como macarrão, conservas, grãos, sucos de frutas, leite UHT, ou os que possuem atividade de água baixa, ou os que passam por processo de esterilização, ou os embalados a vácuo, poderiam se valer do Best Before.

O Codex Alimentarius — coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente com recomendações sobre produção e segurança alimentar — e a União Europeia já iniciaram tratativas para alteração dessas regras. Discute-se até mesmo a eliminação do prazo de validade para muitos itens, como café, arroz, massa seca, geleias, picles, entre outros. Tudo para ajudar a reduzir o desperdício de alimentos próprios para o consumo.

Ressalte-se que o combate ao desperdício e à perda de alimentos já é uma das bandeiras da indústria há muito tempo. Além do Best Before, atuamos no treinamento das pessoas envolvidas no processo de produção, transporte, armazenamento e comercialização. São focos de atenção o planejamento da produção, cuidados no transporte, controle de qualidade, refrigeração adequada e utilização de embalagens apropriadas.

 


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