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Atratividade de jovens ao magistério

Correio Braziliense
postado em 03/12/2021 06:00
 (crédito: Maurenilson Freire)
(crédito: Maurenilson Freire)

Por MOZART NEVES RAMOS - Professor emérito da UFPE e titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto

No Brasil, ser professor não é objeto de desejo. Isso é muito grave. Os próximos governantes precisam incluir isso na agenda. Em outras palavras, em suas propostas para o novo Brasil, precisam indicar de que forma pretendem atrair jovens para o magistério.

Sem bons professores, o Brasil não terá futuro. Todas as pesquisas mostram que, entre os fatores que mais impactam o aprendizado do aluno, a qualidade do professor é o mais importante. O baixo aprendizado escolar e a elevada taxa de desigualdade educacional, que se acentuaram drasticamente com a pandemia, constituem o desafio mais relevante a enfrentar. Por isso, não há tempo a perder.

Antes da pandemia, o cenário era dramático. De cada 100 alunos que concluíam o ensino médio, apenas 10 aprendiam o que seria esperado em matemática. No que se referia aos cursos de licenciatura, relativos à formação de professores, mais da metade dos que começavam desistiam antes da conclusão.

Por exemplo, de cada 100 que ingressavam no curso de licenciatura em física, 71 desistiam, conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que acompanharam os ingressantes de 2010 até 2016, quando, na prática, deveriam tê-lo concluído. O quadro é muito similar ao das demais licenciaturas.

O aprendizado escolar, no ensino médio, está, literalmente, estagnado desde o início das primeiras avaliações, ainda na década de 1990. E estagnação, em educação, significa retrocesso. A evasão dos cursos de licenciatura sempre foi elevada, e muito pouco foi feito, em termos de medidas efetivas, para reverter esse quadro. Só que agora não dá mais para esperar: ou enfrentamos o desafio da atratividade, ou vamos sucumbir. Os países de melhor desempenho econômico mundial consideram a educação como o novo nome do desenvolvimento.

Cito agora duas medidas para reverter esse quadro, que tive o privilégio de compartilhar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), por exemplo, poderia ser fortemente aplicado para alunos de cursos de licenciatura de currículos inovadores, que procuram alinhar a teoria com a prática, trabalham com metodologias ativas e criativas e desenvolvam novas habilidades e competências que vão além dos aspectos meramente cognitivos, ou seja, formando o futuro professor no contexto de uma educação integral, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Em decorrência da baixa demanda por esses cursos, as boas instituições de ensino superior estão desistindo de oferecê-los; os que persistem concorrem com a oferta de cursos de baixo impacto de mudança e de qualidade, com mensalidades inferiores a R$ 100.

Outra medida importante poderia ser a criação de um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) específico para a carreira do magistério, seguindo a cultura da colaboração entre as unidades federativas vigentes no Fundeb em curso, que tem tido um papel central no enfrentamento da questão do salário do docente.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) mostram que, no início da carreira, a diferença entre o salário de um professor e o de outros profissionais com a mesma titulação é de 11% a menos, mas, no meio do percurso profissional, essa diferença sobe para além dos 40%. Sem um plano de carreira vinculado ao desenvolvimento profissional, os jovens não se sentem atraídos pelo magistério.

Quanto custa isso? Essa é a primeira pergunta que nos vem à mente. Mas, como diz Derek Bok, ex-presidente da Universidade Harvard, se você acha a educação cara, experimente a ignorância. O Brasil precisa continuar a ampliar os investimentos em educação, mas precisa também que a aplicação desses recursos seja acompanhada de uma gestão mais eficiente, para que eles resultem em aprendizagem.

Algumas vezes, há uma perda significativa, não só pelo mau uso contábil desses recursos, mas também por não terem a eficácia esperada. Anualmente, verifica-se que 500 mil jovens desistem do ensino médio, o que provoca uma perda de mais de R$ 3 bilhões, e isso só no campo educacional. O custo social é muito maior.

 

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