Visto, lido e ouvido

Diferenças e verossimilhanças

Circe Cunha
postado em 10/12/2021 06:00

Diferenças extremas, aos olhos de quem não se deixa enganar pelas aparências e sabe distinguir a realidade de seu oposto, são ilusórias, pois são construídas artificialmente apenas para confundir um observador mais desatento. Na política, essa é uma estratégia antiga e igualmente falsa, mas que ainda que é utilizada com relativo sucesso durante as campanhas, dado o grande número de eleitores alienados que se apresentam diante das urnas, como quem embarca numa longa viagem sem saber o destino.

Nada mais parecido, um com o outro, do que esses dois postulantes que agora se apresentam com maiores chances para o pleito de 2022. De tão parecidos, chegam a ser vistos como a cara e a coroa dessa moeda eleitoral. Uma moeda, que pelo visto até aqui, não possui lastro ou valor de face diante de elementos como a ética pública ou o Estado Democrático de Direito e a cidadania.

Trata-se aqui de dois candidatos já testados pela população que deixaram um rastro imenso de desordem e de fatos mal explicados, além de um passivo enorme, traduzido pela expressão "herança maldita", e tudo o que ela pode conter de nefasto. A prática mostrou que, uma vez instalados no poder, deixaram de lado todo e qualquer plano de governo, optando ambos pela improvisação e pelo voluntarismo, deixando de lado, também, as promessas feitas aos eleitores, conduzindo seus governos sempre com base na compra de apoio político, por meio do chamado presidencialismo de cooptação. Aliando-se ao que de mais atrasado e fisiológico temos no meio político.

Mas é no tratamento da coisa pública que as pseudodiferenças entre o candidato da direita e o da esquerda mais se estreitam, passando a ser a mesma coisa gosmenta e de mau odor, com a confusão já vista entre o público e o privado e com o uso da máquina do Estado para o atendimento de objetivos pessoais para si para seu clã. Tudo isso sem o menor pudor e com o apoio inconfesso de certa parcela da imprensa que também lucra ou com o silêncio, ou com apupos, próprios dos que se vendem barato e por trinta moedas.

O que se tem aqui na disputa entre uma direita tola versus uma esquerda parva e estulta, em que ambas almejam o poder pelo poder, sem quaisquer outras substâncias do tipo republicanas, para extrair dessa posição o máximo de benefícios materiais possíveis que permita a continuação do atual status quo, no qual a população financia, a duras penas, projetos privados da elite no poder, bancando gastos secretos e exorbitantes, mas sempre carente de prestação de serviços públicos básicos.

A verossimilhança entre os reais objetivos de ambos os candidatos, obviamente escondidos do eleitor que os leva em marcha interesseira rumo ao Palácio do Planalto, pode ser comprovada pela escolha que ambos fazem ao elegerem um inimigo comum e fidagal, na figura do ex-juiz da Lava-Jato. O que esses postulantes cínicos enxergam no ex-magistrado é a verdadeira diferença que ele possui em relação a ambos. Nesse ponto, pode-se falar em extremos estelares, que vão da escuridão à luz.

É a diferença incomensurável que vai da verdade à mentira, do falso ao real. O que esses dois ilusionistas enxergam no ex-juiz é mais do que um concorrente, é a antítese do que são. Por isso o têm como alvo a ser atingido.

 


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