A humanidade deveria usar os dois últimos anos como fonte de penosas e valiosas lições. A primeira delas: apesar da arrogância e da empáfia de muitos, somos pequenos demais. Precisamos descer do pedestal de nosso egocentrismo e assumir o nosso verdadeiro tamanho. Nossos destinos, às vezes, são traçados por um vírus que implode nossa saúde. Além de frágeis, nada levamos desta vida. Algumas pessoas adotam o "ter" e não o "ser" como premissa ou filosofia. Esquecem-se de que nada levamos daqui. Dinheiro não vai para o túmulo, status se perde no vácuo das lembranças. Tudo o que importa e que nos une como amálgama é o amor.
A segunda lição: precisamos uns dos outros. Foi doloroso demais o distanciamento social, apesar de necessário ou até crucial. Na última noite de Natal, algumas famílias sentiram-se mais seguras por conta da vacinação e se reencontraram, quase dois anos depois. Momentos emocionantes para muitos. Desde março de 2020, foram frequentes os contatos por meio de videoconferência. Sentimos falta do abraço, do tato, do calor humano. A terceira lição: o luto inconcluso é duro demais. Quantos brasileiros tiveram de sepultar pais, filhos, irmãos sem uma despedida, sem um velório. Quantos brasileiros morreram, praticamente sozinhos, em um ambiente frio de uma unidade de terapia intensiva, sem o conforto de um toque de um familiar ou de um olhar encorajador.
Quarta lição: não devemos depositar nossa confiança em quem não merece. Por tantas vezes, vimos como o atual governo mostrou desinteresse pela saúde da população. Como tripudiou e debochou da pandemia. Como menosprezou a dor de quase 620 mil brasileiros. Deu-nos o ensinamento, ainda que a duras penas, sobre a importância do voto. É o voto que traça o destino de uma nação. Quinta lição: negar o negacionismo é questão de sobrevivência. Chega de fake news, de mentiras despejadas na internet, de tentativas de desmoralizar o jornalismo sério e comprometido com a verdade. Quantos brasileiros tiveram a vida ceifada pela promessa de cura com a ivermectina e a hidroxicloroquina... Quantos brasileiros deixaram de se vacinar por ideologia política distorcida ou por fanatismo religioso...
Espero, amigo leitor, que em 2022 a pandemia termine e que possamos ter aprendido algo com tanto sofrimento. Em outubro, desejo que o brasileiro reaja menos com o fígado e mais com o coração. E que possamos olhar para o outro com mais amor e mais senso de responsabilidade. Sim, somos responsáveis uns pelos outros. Nossas ações repercutem na vida do próximo, tanto positiva quanto negativamente. Espero que saiamos dessa tragédia sanitária como pessoas melhores e, sobretudo, como cidadãos compromissados com o futuro de uma nação com potencial para se tornar celeiro de tantas riquezas e de progresso. Feliz 2022 a todos. A quem perdeu familiares e amigos, meus sinceros sentimentos.
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