Viajar no tempo

ORLANDO THOMÉ CORDEIRO Consultor em estratégia
postado em 31/12/2021 00:01
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

Uma das fantasias cultivadas pelo ser humano ao longo de séculos é a possibilidade de viajar no tempo. O tema serviu de inspiração para diversos livros e filmes tais como a Máquina do tempo, escrito por H. G. Wells no final do século 19, e a série Star wars, de George Lucas, cujo primeiro episódio foi lançado em 1977.

Outro desejo muito forte é de tentar projetar o futuro. Nesse terreno temos, entre outros, os clássicos Fahrenheit 451 (1966) baseado na obra de Ray Bradbury e dirigido por François Truffaut, Laranja mecânica (1971) baseado no livro de Anthony Burgess e dirigido por Stanley Kubrick, Blade runner (1982) e Brazil (1985), ambos dirigidos por Ridley Scott.

Todo final de ano proliferam na mídia e nas redes sociais as profecias sobre o que acontecerá em 2022. Qual filme será ganhador do Oscar? Quem será o time campeão brasileiro de futebol? Qual celebridade vai se casar ou se separar? Tudo muito divertido e sem contraindicações.

Já tentar prever o que acontecerá no terreno da política e da economia é um exercício pra lá de arriscado. Basta olharmos as apostas feitas no final de 2020 por analistas reconhecidamente capazes e que não se confirmaram, tais como a quase certeza de que o Congresso aprovaria o impeachment do presidente.

Outra previsão furada foi o tal crescimento em V prometido por Paulo Guedes, ministro que se notabilizou por vender um futuro imaginário e nunca confirmado. Aliás, ele e sua equipe previram uma inflação anual de 3,2%, mas fechamos o ano com mais de 10%. Tivemos também a previsão irresponsável do governo federal de que a pandemia estava terminando e não atravessaria 2021, mas já ultrapassamos o trágico número de 600 mil mortes.

É conhecida a expressão de que no Brasil, quando se trata de apontar as tendências políticas, 24 horas é longo prazo, mas vou me arriscar a dar alguns palpites para 2022. Começo pela badaladíssima aliança entre Lula e Alckmin. Aqui, mais uma vez, o ex-presidente tem demonstrado todo seu talento para criar situações favoráveis sem precisar assumir qualquer compromisso para além do discurso de campanha. Minha aposta é que essa chapa não se concretizará, tendo como principal consequência o esvaziamento eleitoral e político da figura do ex-governador que deverá ficar sem espaço para se candidatar a qualquer cargo.

Indo para o outro polo, teremos Bolsonaro fazendo de tudo e mais um pouco para fortalecer sua candidatura a partir da consolidação do Auxílio Brasil, das alianças com os partidos do Centrão, além de se apoiar na radicalização do sentimento antipetista como caminho para ser reeleito. Ao contrário do que muita gente acredita, ele estará no jogo, não podendo se desprezar sua competitividade.

Saindo dos dois polos que, estrategicamente, se retroalimentam, temos uma plêiade de candidaturas da chamada terceira via. Por ali, até o momento, são muitos nomes com poucos votos. Vejamos o caso de Ciro Gomes. Sua tentativa de se posicionar como uma alternativa antibolsonarista e não petista foi por água abaixo quando o ex-presidente voltou para a disputa. Em que pese as juras do presidente nacional de seu partido de que a candidatura irá até o final, tudo indica que ficará pelo caminho e seu nome não estará na urna.

O ex-juiz Sergio Moro tem um grande desafio pela frente. Depois de entrar no jogo ocupando a terceira posição em todas as pesquisas, viu frustrada a expectativa de seus apoiadores por um crescimento exponencial que não se confirmou. Apesar das iniciativas para atrair apoios e de ter um potencial de votos significativo, sua pré-campanha vem sendo marcada por alguns erros graves típicos da inexperiência política e eleitoral. Dessa forma, se não der um cavalo de pau na sua estratégia, ficará estagnado e sem chances reais no processo.

O governador Dória vive um dilema. Mesmo tendo um governo marcado por muitas realizações, com destaque para a iniciativa de trazer a primeira vacina contra a covid, enfrenta taxas de rejeição elevadas, inclusive em São Paulo. É claro que não se pode desprezar sua capacidade para reverter cenários desfavoráveis como já demonstrada em eleições anteriores, mas creio que, desta feita, não acontecerá.

Há ainda nomes como Rodrigo Pacheco, Simone Tebet e Alessandro Vieira que terão dificuldade para sensibilizar o eleitorado. Por fim, meu último palpite que, reconheço, traz junto um componente de torcida: entre maio e junho veremos a consolidação da aliança em torno de uma única candidatura capaz de furar o bloqueio da polarização atual. Feliz 2022!

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