VIOLÊNCIA

O caso dos meninos de Belford Roxo é reflexo das mazelas brasileiras

Se não fosse a mobilização de familiares, com protestos para chamar a atenção da mídia pelas ruas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, é bem provável que o boletim de ocorrência sobre o desaparecimento deles estivesse mofando em uma gaveta, como ocorre Brasil afora

O desfecho das investigações do triplo assassinato dos meninos de Belford Roxo (RJ) choca por ser mais um capítulo recorrente das mazelas brasileiras. Em primeiro lugar, pela crueldade que envolve todo o crime. Os garotos de 9, 11 e 12 anos foram torturados, a mando de uma facção criminosa, pelo suposto roubo de passarinhos. Um deles morreu durante a sessão de sevícia. É a velha prática de criminosos quererem fazer justiça com as próprias mãos. O tal tribunal paralelo que jamais deveria existir, e isso só ocorre por falta da presença do Estado.

O segundo ponto triste é que a investigação do desaparecimento de Lucas Matheus, Alexandre da Silva e Fernando Henrique, em dezembro do ano passado, só andou de fato após a pressão de familiares. Se não fosse a mobilização deles, com protestos para chamar a atenção da mídia pelas ruas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, é bem provável que o boletim de ocorrência estivesse mofando em uma gaveta, como ocorre Brasil afora. O resultado da cobrança fez a apuração andar. Foi concluída 17 dias antes de o caso completar um ano.

Só para se ter uma ideia, a Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga, atualmente, 9.542 homicídios cujas vítimas são crianças e adolescentes de zero a 17 anos. O inquérito mais antigo começou em 2000 e, passados 21 anos, continua sem conclusão. O tempo médio de investigação é de oito anos e três meses, segundo o estudo divulgado na semana passada pela Defensoria Pública do RJ. Do total, 79,5% (7.585 casos) são crimes dolosos (intencionais) e 20,5% (1.957) são culposos (sem intenção).

São casos em que sabe-se que a vítima morreu, mas ainda não há uma acusação formal contra ninguém. Pode-se até ter suspeitos, mas nenhum acusado. Quando se fala em desaparecimento, no entanto, a dúvida sempre permanece. Uma das primeiras reações de familiares é o pânico e o medo de que algo pior tenha acontecido. E a dúvida sempre permanece. Há dias em que se enche de esperança. Em outros, o receio toma conta. Uma angústia sem fim.

Por isso, é fundamental o registro de ocorrências. Investigadores costumam dizer que as primeiras horas são, de fato, cruciais para a apuração, inclusive quando se trata de raptos, sequestros, evitando que ações criminosas sejam perpetradas. Na dúvida, procure sempre a polícia. E pressione. Cobre.

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