Por dentro do metaverso

A futurista Amy Webb afirmou recentemente que os aparelhos de celular são uma tecnologia "em extinção" que pode desaparecer já na próxima década. Então vamos lá. Imagine o mundo daqui a cinco anos onde a internet finalmente será 5G (é, antes disso é só marketing mesmo, ok?). Lá em 2026 ainda deveremos carregar celulares para todo lado, mas chegando a 2030 a chance é quase zero. E é aí que você me pergunta: certo, mas o que vamos fazer para seguir conectados? E eu te respondo: já está tudo sendo preparado e, quando menos esperarmos, estaremos viciados na nova onda chamada metaverso. Não à toa, personalidades da mídia como Sabrina Sato saíram na frente e já criaram seus avatares. Sim, nesse mundo paralelo no ciberespaço seremos representados por meio desses corpos digitais.

Tá, tá bom. O Facebook virou Meta. Dezenas de empresas tech estão investindo milhões e desenvolvendo novas plataformas. Tudo isso a gente já sabe. Então, afinal, o que é esse tal de metaverso? A origem do termo é de 1992, tendo sido apresentada pela primeira vez por Neal Stephenson no livro Snow crash (Nevasca na edição brasileira). No entanto, as criações de mundos virtuais já existem há bastante tempo e já surgiram em diversas formas e diferentes propostas, sendo representadas até mesmo no cinema. Para ilustrar, jogos como Fortnite e Second Life já usam ferramentas como as realidades aumentada e virtual, simulando um pouco do que será executado nos metaversos. Opa, é plural? Sim, provavelmente teremos diversas estruturas de realidade virtual, não só a criada pelo antigo Facebook. Por exemplo, 70 mil pessoas já estão testando a versão beta do Omniverse, uma ação da empresa Nvidia para lançar o seu mundo virtual.

Vamos tentar materializar mais um pouco. Vocês lembram da febre do Pokemon Go e das pessoas correndo nas ruas para capturar as imagens que viam em seus celulares? Pois bem, mantenha isso em mente. Agora imagine que com uma internet bem mais veloz e estável e o fim dos celulares, teremos também a chegada em massa de óculos inteligentes e outros dispositivos, com funcionalidades novas que conectarão nossos dados biométricos com comportamentos individuais no mundo real. É, dá medo. Já pensou o mundo inteiro "se trombando" num jogo virtual como a caça dos Pokemons? Alguns especialistas, como o cientista da computação Louis Rosenberg, têm receio também de que a sobreposição de informações com o mundo real, mas que apenas existem virtualmente, poderia crescer a tal ponto que impacte todas as facetas da vida, impedindo que as pessoas se desliguem do sistema.

Fato é que essa experiência imersiva, como comentei, já está sendo construída. A nós será necessário entender seu conceito, limites e, claro, preparar para oportunidades de negócio. Grifes de luxo e marcas de varejo internacionais já estão desenvolvendo novas jornadas de compra e modelos de loja a fim de poder realizar transações no multiverso e receber produtos em casa (ou simplesmente artigos que tenham finalidade meramente no ambiente digital, como as obras com certificado NFT, que, a propósito, acaba de ser escolhida a palavra do ano de 2021 pelo dicionário inglês Collins).

Precisamos estar preparados para ver a transformação digital e cultural começar do zero novamente. Num passado recente, a chegada das APIs, dos marketplaces e do phygital proporcionou diversas mudanças e aprimorou a maneira como nos relacionamos com o digital. Com o metaverso em funcionamento, digamos, um novo caminho será aberto, tanto para a criação de novas experiências, quanto para o estabelecimento de processos digitais mais seguros, rastreáveis e que, com o suporte da blockchain, trará ainda mais segurança para esse novo movimento.

Ainda há muito a ser desenvolvido, principalmente aqui no Brasil no que diz respeito a capacidade de processamento de dados (afinal, para um objeto "rodar" nesse ambiente, o processamento deve ser rápido, a fim de permitir uma experiência em tempo real e sem ruídos). Além disso, temas como privacidade precisarão ser amplamente discutidos, sem falar de inclusão e de saúde pública - uma vez que tal transformação pode afetar as pessoas física e psicologicamente.

Acredito que estamos nos aproximando cada vez mais do modelo híbrido de homem-máquina, algo como o que nos foi apresentado em 2014 por Miguel Nicolelis. Seu marco permitiu que uma pessoa com um protótipo pudesse chutar (e sentir) a bola na Copa do Mundo sediada em solo brasileiro. Portanto, não deveríamos nos espantar, por exemplo, com a possibilidade de que, a partir do desenvolvimento de tecnologias como essa, seja possível realizar a troca de informações e conhecimentos por meio de conexões neurais entre uma ou mais pessoas, via nanobots inseridos no corpo humano.

Para concluir, deixo a dica de um filme que consegue passar uma visão muito interessante e lúdica do que poderá ser esse novo mundo. Disponível via streaming, Jogador nº 1 (Ready player one, título original), de Steven Spielberg e inspirado no livro de Ernest Cline, retrata o ano de 2045 quando a humanidade prefere a realidade virtual a um do mundo real. Parece difícil, complexo e blá-blá-blá de ficção científica. Com certeza a primeira pessoa que recebeu uma mensagem de voz no celular (ou um fax!) também achou que isso fosse impossível.