A translação em volta do umbigo

Correio Braziliense
postado em 02/01/2022 00:01

Ao completar nossa translação anual em torno de nossa estrela, o Sol, o que muitos cidadãos de bem deste planeta e, principalmente, do nosso país voltam a desejar, é que a rota elíptica, que agora é reiniciada, no tempo e no espaço, possa, de alguma maneira, propiciar um amadurecimento da raça humana, em especial dos brasileiros, afastando-os de tudo aquilo que conduz à destruição de nossa espécie e da nossa nacionalidade.

Desde a antiguidade que o reinício de cada ciclo natural das atividades agrícolas, divididas em preparo da terra, semeadura e colheita, passou a ser também emprestado e comparado aos ciclos de vida dos indivíduos, com o preparo da infância, a integração ou semeadura da pessoa no grupo social, finalizando com a procriação da espécie e o reinício de todo o ciclo.

São observações básicas, mas que fazem muito sentido, quando se nota a evolução de nossa espécie ao longo da história ou das muitas voltas que a Terra deu em torno de sua estrela. Para a mecânica do cosmos, pouco ou nada significa o movimento dos astros ou a interferência de Cronos, o tempo, em relação à vida aqui na Terra.

Fomos nós que trouxemos esses movimentos celestes e os incorporamos às nossas atividades cotidianas como forma de inserir algum significado visível à vida nesse planeta. As comemorações que, por séculos, têm sido realizadas nessa e em outras datas específicas, são meras convenções sociais, sem sentido prático, quando se nota que ao longo da história humana, pouco ou nada esses movimentos ou o tempo foi capaz de alterar no comportamento humano.

As guerras e os milhares de conflitos que se seguiram ao longo de toda a presença humana sobre o planeta, alcançando até os nossos dias, provam que não é a mecânica dos astros ou o deus Cronos que altera o comportamento humano, mas sim a ação de estímulo e repressão dos homens sobre outros homens.

Essas ações de estímulo e repressão aparecem primeiro na família, sendo depois estendidas para a sociedade, onde todo o processo se dá. São, portanto, as convenções sociais que regulam, favorecendo ou inibindo o comportamento e a evolução humana. Sendo assim, cabem às instituições, como a própria família, às escolas servirem de guias para a correta condução do indivíduo para o seio da sociedade.

E é aí que a coisa toma um rumo que nenhum movimento dos astros é capaz de solucionar e que nos coloca hoje como uma nação repleta de problemas humanos básicos a serem resolvidos e que são, a cada ano, preteridos por quem deveria fazê-los. Mas, ainda assim, a translação da Terra pode servir como exemplo a ensinar que está no eterno retorno às origens, a solução para muitos dos conflitos humanos e, sobretudo, no nosso caso particular, mostrar que estão na família e em escolas de qualidade as respostas que a nação busca para seu desenvolvimento.

Tivéssemos enfrentado a questão da melhoria das escolas, desde o tempo em que educadores como Anísio Teixeira ou Darcy Ribeiro apontavam como primordiais, hoje, não teríamos que assistir ao triste espetáculo de vermos uma nação, como a brasileira, totalmente analfabeta em termos políticos, sem qualquer ciência de seus deveres e direitos políticos, polarizada entre os abismos de uma extrema esquerda e de uma extrema direita, guiada como gado em marcha para o matadouro.

Podem culpar as estrelas ou ao ano que termina por nossa sina. A questão do movimento dos astros começa e termina em nosso próprio umbigo.

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