» Sr. Redator

Correio Braziliense

postado em 04/01/2022 00:01

Reforma ou revolução?

Para início de conversa: "Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha; porque o remendo tira um pedaço da roupa, e o buraco fica ainda maior. Nem se põe vinho novo em odres velhos, porque, se alguém fizer isso, os odres se rompem, o vinho se derrama, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam" (Mt. 9: 16-17). É preciso mais que inteligência para enxergar além das aparências. Requer também sensibilidade, sagacidade e um certo ceticismo emocional. O ano novo e a velha vontade de mudar, por exemplo. Acostumamos, enquanto país, a seguir uma cartilha conservadora em que mudar significa, quando muito, reformar. Ajustes conjunturais, no máximo, podem ser feitos. É proibido mexer nas estruturas. Com sua velha tradição autoritária, o Brasil dos "podres poderes" admira homens cordiais e conciliadores e detesta sujeitos radicais e provocadores. Não à toa, desde os laços familiares até os contratos corporativos, as relações de mando e obediência prevalecem sobre os atos de subversão e rebeldia. Reformar pode ser até o primeiro passo de uma mudança, mas a transformação concreta só se faz com a revolução de protagonismo popular. Se o cobertor é curto para aquecer toda a população, a culpa disso vem primeiro de um sistema programado pelas elites oligárquicas com o objetivo de promover campos de concentração de renda e de poder. O capitalismo, em especial, adora um batalhão de sujeitos alienados e uma meia dúzia de espertos para comandá-los à luz da privatização dos lucros e da socialização dos prejuízos. Portanto, a velha vontade de mudar precisa muito mais do que a esperança de um ano novo para se realizar de fato.

Marcos Fabrício Lopes da Silva,

Asa Norte

Aumento de preços

Ao contrário do que muitas empresas do ramo de alimentação andam fazendo por aí, segundo reclamações generalizadas dos consumidores, o supermercado perto da minha casa, onde eu faço habitualmente as minhas compras, não aderiu a essa política e vem mantendo os seus preços, rigorosamente, inalterados. A bandeja de mortadela que eu costumo adquirir, por exemplo, desde muito tempo vem custando a mesma coisa, para minha grande satisfação. A única diferença, é que antigamente ela continha 8 fatias, depois passou para 6 e ontem (caramba!) vieram só 4. Eu não entendo de matemática, mas conversando com um professor versado nessa ciência ele quase me chamou de burro, dizendo que se as 8 fatias que eu comprava passaram para 4, pelo mesmo preço, então eu estava pagando o dobro por esse produto, "que teve um aumento de 100%!" (eita raciocínio danado, esse!). Vixe, que horror!

Lauro A. C. Pinheiro,

Asa Sul

Filme

O filme Não Olhe Para Cima deveria ser assistido por todos, independentemente de qualquer espectro político pessoal. Longe de mim querer dar "spoiler" (na dúvida, pare de ler essa missiva), mas, a meu ver, o tão comentado negacionismo do filme é tema bastante subsidiário. A força central são a ganância política e a idiotização pelas redes sociais e pela sensacionalização midiática. Vi muito mais analogia ao presidente chileno Sebastián Piñera do que ao nosso atual presidente, embora seja impossível, em um dado momento da história trazida pela Netflix, não a associar ao séquito bolsonarista nem à vil ligação dos governos petistas com empresariados de ruinosos impérios da Lava-Jato. Fora isso, o filme é genial ao dar margem para a esquerda criticar a direita, a direita criticar a esquerda, os religiosos confirmarem Deus e os ateus confirmarem a ausência de Deus — sim, a fé é abordada de modo "en passant". O filme também traz críticas sociais quando deixa clara a passividade do mundo frente ao egocentrismo americano, à exceção dos de sempre, mostrando que todos dependem dos EUA para se safarem da extinção, e quando aborda as mulheres no comando da ciência e da nação. Em resumo: a quem não viu, recomendo que assista, de preferência com a mente aberta para todos os lados.

Ricardo Santoro,

Lago Sul