Visão do Correio

Artigo: Cerrado, um bioma ignorado

Correio Braziliense
postado em 06/01/2022 06:00

O cerrado ocupa mais de 2 milhões de km² ou 22% do território nacional. É considerado o segundo maior bioma da América do Sul. Abriga 5% de todas as espécies de animais do planeta, 30% das existentes no Brasil, sendo 32% endêmicas. Reconhecido como berço das águas, ele é essencial à alimentação de oito das 12 bacias mais importantes e à geração de energia do país.

Em 2021, o país enfrentou grave crise hídrica. Por pouco, os brasileiros não foram submetidos ao racionamento de energia. O valor das tarifas disparou, diante da necessidade de o poder público apelar às termelétricas, o que pesou no orçamento familiar e contribuiu para a escalada ascendente da inflação.

As nascentes e veredas do cerrado irrigam o agronegócio. Das terras de árvores retorcidas e vegetação rasteira, saem 55% da carne bovina, 49% da soja, 49% do milho, 98% do algodão, 47% da cana-de-açúcar, segundo dados da Embrapa Cerrado. A degradação do bioma pode provocar graves danos à agropecuária, um dos pilares da economia nacional, e promover o desequilíbrio de outros ecossistemas, com impactos imprevisíveis.

O bioma se estende por 12 unidades da Federação. Mas tamanha projeção foi desconsiderada pelos constituintes de 1988. No fim, o bioma foi excluído da lista dos ecossistemas alçados à condição de patrimônio nacional. Prevaleceram a pressão e os interesses de ruralistas, ávidos por expandir suas áreas de exploração. O mesmo ocorreu com a caatinga, no Nordeste, e com os pampas, no Sul.

No ano passado, o bioma perdeu 8.531 km² de vegetação — o dado foi revelado no ocaso de 2021 pelo governo. Passou despercebido, diante da reedição de 2020 do desflorestamento, das queimadas e da ação predadora, de garimpeiros que, criminosamente, agem na Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, rica em biodiversidade e até considerada pulmão do planeta.

A indiscutível relevância da Amazônia e do Pantanal Mato-grossense, patrimônios nacionais, não reduz a essencialidade do cerrado, cuja degradação crescente compromete esses dois biomas. Mas, no Brasil, principalmente nos últimos anos, houve uma inversão da política ambiental.

O país perdeu protagonismo no cenário internacional. O poder público abriu mão da soberania do Estado sobre o patrimônio natural, deixando-o submetido às intervenções destruidoras de antiambientalistas, que almejam o lucro imediato. Embora as esperanças se renovem a cada início de ano, não há como ter uma boa expectativa em relação às questões ambientais no Brasil. As iniciativas mais agressivas contra o meio ambiente só têm sido contidas pelo Judiciário, quando provocado por parlamentares, à revelia do Executivo.

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