Opinião

Rodrigo Craveiro: Não fosse a ciência

Rodrigo Craveiro
postado em 12/01/2022 06:00

Não fosse a ciência, provavelmente boa parte da humanidade teria sido dizimada em pandemias. Bactérias causariam milhões de mortes em hospitais, se o médico inglês Alexander Fleming não tivesse descoberto a penicilina, em 1928. A poliomielite colocaria inúmeras crianças na cadeira de rodas, caso a vacina não tivesse sido criada a partir dos estudos do cientista norte-americano Jonas Salk, 25 anos depois. A aids ainda seria sentença de morte, se Luc Montagnier, Françoise Barré-Sinoussi e Robert Gallo não tivessem isolado o HIV na década de 1980 e aberto caminho para o desenvolvimento de testes de diagnóstico e tratamentos baseados em antirretrovirais que praticamente garantiram vida normal ao soropositivo. O câncer mataria muito mais pessoas, não fosse o desenvolvimento da quimioterapia, nos anos 1920. E não seria possível "enxergar" através do corpo se o casal francês Pierre e Marie Curie não tivesse detectado pela primeira vez a radioatividade, ainda que colocassem a própria saúde em perigo.

Não fosse a ciência, o celular, o tablet ou o computador que você usa agora para ler este artigo não existiria. Assim como o seu micro-ondas ou a sua televisão. As crenças de alguns negacionistas que dizem que o homem jamais foi à Lua se confirmariam. Até porque não existiriam meios de construirmos foguetes. Assim como a noção bizarra de que a Terra é plana, se as premissas de Aristóteles não tivessem sido comprovadas por astrônomos, séculos mais tarde. Não fosse a ciência, talvez você tivesse dezenas de filhos ou escolhesse forçosamente a abstinência sexual. A ciência que tantos rejeitam não apenas busca melhorar nossa qualidade de vida. Ela é responsável por existirmos.

Disseminar informações falsas, que colocam pessoas contra a ciência, não apenas é vergonhoso. Também é criminoso, na medida em que induz o outro a não usufruir dos benefícios dos avanços científicos, tornando-o refém de crenças espalhafatosas e de ideologias messiânicas e mitômanas. Utilizar a falácia para convencer o próximo de que a vacina contra a covid-19 é ineficaz ou mata é não apenas bizarro, mas um absurdo. O que dizer então das baboseiras de que o imunizante faz virar jacaré, implanta chip no corpo, inocula DNA alienígena, entre outras estratégias esdrúxulas, ardilosas e vis para tentar impedir a vacinação e impor a teoria da imunidade de rebanho?

A propósito, tomei a terceira dose da vacina na segunda-feira. Emocionado, me lembrei de tantos brasileiros que perderam a vida, inclusive as mães de dois amigos. Senti gratidão pela existência do Sistema Único de Saúde (SUS) e da ciência. E completa ojeriza por quem prefere se enveredar pelas sendas do obscurantismo. Não fosse a ciência, provavelmente você não estaria vivo para ler este artigo e perceber que é ela quem mantém a humanidade.

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