Opinião

Olhei para cima e a ômicron me pegou

Correio Braziliense
postado em 21/01/2022 06:00

JOSÉ RICARDO MARQUES - Advogado, é especialista em biossegurança e bioética

O filme Não olhe para cima, com Leonardo Di Caprio, Jennifer Lawrence e grande elenco, narra a saga de um cientista e uma estagiária que descobrem um cometa mortal que vem em direção à Terra e vai dizimar com a vida humana. Na verdade, com toda a vida existente.

O roteiro retrata a luta dos cientistas em alertar a presidente da República dos EUA sobre a catástrofe iminente e sua devastação que, em determinado momento, poderia ser impedida. Entretanto, uma bigtec, que financia a campanha da candidata à renovação do mandato, entende que poderia utilizar uma tecnologia para explorar as riquezas minerais do asteroide. Tudo falhou e restou a um menino de rua fazer a última oração a Deus pedindo misericórdia.

Olhei para cima e a variante do Sars-COV-2 me pegou. A ômicron chegou como um cometa, explodiu em praticamente todos os países e vem causando enormes prejuízos. Não estou falando dos milhares de mortos, mas do número de infectados que trará um colapso no sistema de saúde, especialmente a pública. Estamos diante de uma cepa altamente contagiosa, sem precedentes, que vem alcançando milhões de pessoas por dia, recorde atrás de recorde. Cientistas dizem que fevereiro será dramático e torturante.

Testar, testar e testar é uma das medidas mais racionais que evitará maiores consequências. As vacinas se mostram eficientes, mas não têm eficácia 100%. O médico sanitarista Rodrigo Oliveira, secretário de Saúde do município de Niterói, no Rio de Janeiro, teve atuação exemplar no combate à pandemia e, na sua opinião, este será o século das pandemias e a gestão pública deve enxergar as medidas necessárias como uma maratona e não corrida de 100 metros.

Eu peguei a covid-19, com três doses vacinais, duas Astrazenica e uma Pfizer. Estou com sintomas leves, consultei médico especializado, Edmilson Migowski, que receitou medicação, e estou fazendo uso. Nada de cloroquina. Outro médico também me assiste, Márcio Braga, médico do trabalho e diretor da Polícia Técnica do RJ, entre tantas especializações. Estou otimista que, em pouco tempo, terei minha liberdade de volta, mas confesso que tomarei mais cuidados.

Uso de máscaras quase que permanentemente, nada de aperto de mãos ou contato físico, nada de aglomerações, nada de festas, vou lavar mais as mãos e procurar quase que com toque, locais limpos e protegidos. Temos que mudar, mudar hábitos e qualidade de saúde. Óbvio que a notícia de estar positivado tem impacto e muitas perguntas, especialmente onde contraí a doença, de quem e qual a sua gravidade. Estive viajando no metrô do Rio de janeiro, também no VLT, Uber, e em vários ambientes que aparentemente não estavam seguros.

Amigos e famílias normalmente se protegem pouco e sem protocolos adequados, o que certamente proporciona maior velocidade na transmissão. O cometa ômicron vem com força, rápido, sorrateiro, misterioso e insistimos em levar vida normal, como se a pandemia tivesse terminado e a doença, ao matar menos, está controlada. Não olhe para cima, pois pode restar o susto de que estaremos no fim ou no começo de uma tragédia anunciada.

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