Atenção primária à saúde

Correio Braziliense
postado em 24/01/2022 06:00

 MARCOS LORETO - Diretor médico da Omint

De acordo com o Ministério da Saúde, atenção primária à saúde (APS) é o primeiro nível de atenção em saúde e se caracteriza por um conjunto de ações, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável e a sua manutenção. Na sua essência, o modelo é o primeiro ponto de contato a oferecer atendimento multidisciplinar e integral ao paciente de forma preventiva, descentralizada e democrática.

Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostram que a APS pode atender de 80% a 90% das necessidades de saúde de uma pessoa ao longo da vida. No Brasil, algumas experiências de APS foram implementadas de forma inaugural no século 20, mais especificamente em 1924, com a criação dos centros de saúde que, apesar de manterem a divisão entre ações curativas e preventivas, organizavam-se a partir de uma base populacional e trabalhavam com educação sanitária.

Quando falamos de sistemas privados, vemos cada vez mais healthtechs surgirem oferecendo o modelo da atenção primária. De acordo com o Distrito HealthTech Report 2020, durante a pandemia, o Brasil teve aumento de 118% no número de healthtechs na comparação de 2020 e 2018, passando de 248 para 542 empresas do setor.

Levando em conta que o modelo de APS tem como um dos objetivos principais a prevenção, podemos dizer que seus impactos vão muito além do indivíduo. O sistema é capaz de desenvolver atenção integral que impacta positivamente na situação de saúde coletiva. Portanto, a APS possibilita que os sistemas de saúde, seja ele público, seja privado, se mantenham sustentáveis.

Mas, o que é um sistema de saúde sustentável? Harvey Fineberg, médico americano, que ficou conhecido por seu trabalho na Universidade de Harvard, traz uma visão muito interessante sobre o assunto, em artigo publicado pelo The New England Journal of Medicine. Aponta que, para ser bem-sucedido, o sistema de saúde precisa ter: 1) pessoas saudáveis; 2) um cuidado efetivo, seguro e centrado no paciente; e 3) justiça (um sistema que trata todos da mesma maneira e é justo também com os profissionais). Além disso, ele elenca outros três atributos necessários para manter a sustentabilidade:1) ser acessível financeiramente para pacientes, empresas e governos; 2) ser bem-aceito por quem faz parte dele (pacientes e profissionais de saúde); e 3) ser adaptável, já que as necessidades de saúde mudam constantemente — vide a pandemia que estamos vivendo, as descobertas científicas.

Tudo parece bastante simples, mas sabemos que ainda esbarramos em diversos obstáculos, tanto na saúde pública quanto na privada, quando falamos sobre o desenvolvimento e a ampliação de um sistema de saúde mais sustentável. Estamos inseridos em um modelo em que a prevenção é pouco abordada e praticada. A população vive cada vez mais, porém, o cultivo de hábitos saudáveis ainda tem um alcance baixíssimo e, ouso dizer, muitas vezes, elitizado. Precisamos enxergar a saúde de forma mais ampla, além dos serviços. Saúde também é prevenção. Como você enxerga a sua saúde daqui 20 anos? Por que não cuidar dela desde já para viver melhor o tempo que você tem pela frente? Esses questionamentos me levam a defender cada vez mais o planejamento da saúde, o atendimento primário e tudo que envolve a prevenção de doenças. Podemos construir para um futuro mais saudável e, claro, muito mais sustentável e democrático.

 

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