Visão do Correio

Hora de trabalhar, sem populismo

O ano de 2022, efetivamente, começa amanhã. Passada toda a euforia com a virada do calendário, chega a hora de o Brasil encarar seus sérios problemas. Há um forte anseio por parte da sociedade de que mazelas como a pobreza sejam atacadas de forma eficiente, sem o discurso descarado do populismo. O recado que vem das ruas vale, principalmente, para o presidente da República, que, nos últimos dias, esbaldou-se em passeios de jet ski e em manobras radicais em um parque de diversões. Não arredou pé de suas fanfarrices nem mesmo para prestar solidariedade às milhares de famílias atingidas pelas chuvas torrenciais que caíram, sobretudo, na Bahia.

Há muito por ser feito. A vida real pede que o governo acelere medidas a fim de melhorar as condições da população. O ano, como se sabe, traz uma série de aumentos de serviços básicos, que vão afetar ainda mais o já combalido orçamento dos brasileiros. As passagens de ônibus urbanos devem subir até 11% a partir deste mês. Aviso nesse sentido, inclusive, foi dado por prefeitos a integrantes do Palácio do Planalto. No caso do IPVA, o imposto que incide sobre carros novos e usados, o aumento médio Brasil afora será de 22%. O IPTU, por sua vez, ficará pelo menos 10% mais caro.

Também mensalidades escolares vão aumentar em torno de 10%. Na conta de luz, a previsão inicial era de um tarifaço de 21% ao longo deste ano, mas um socorro de pelo menos R$ 15 bilhões por meio de empréstimos às distribuidoras de energia elétrica tende a limitar o aumento a 9,1%. Quanto aos combustíveis, especialistas acreditam que o litro da gasolina deverá variar entre R$ 7 e R$ 8. É uma pancada para quem usa o carro todos os dias. Para completar, aqueles que vivem de aluguel terão reajuste médio de 17,8% em janeiro. Ninguém teve o salário corrigido na mesma proporção.

Todos esses aumentos refletem, em parte, o desastre que foi a política econômica do governo no ano passado. As crises políticas criadas pelo Palácio do Planalto, as ameaças de golpismo, fizeram com que os preços do dólar disparassem. A moeda norte-americana está entranhada na economia brasileira. Do pãozinho francês do café da manhã aos contratos de locação de imóveis, a divisa dos Estados Unidos se faz presente. A inflação oficial ficou acima de 10%. Ou seja, o custo Bolsonaro será pago por toda a população, especialmente a mais pobre.

Não é mais aceitável que, depois de jogar essa fatura no colo dos brasileiros, o governo continue provocando turbulências e desarranjos na economia. O país precisa retomar a serenidade e o bom senso para que a travessia neste ano que se inicia seja a mais tranquila, possível, apesar das eleições presidenciais marcadas para outubro próximo. A confiança dos agentes econômicos necessita ser resgatada para que, em vez de pessimismo, o país possa ser surpreendido com um crescimento mais forte da atividade produtiva. Na média, as projeções apontam para expansão de apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), mas especialistas não descartam uma severa recessão se erros em série forem cometidos.

Vale lembrar que, entre 2011 e 2020, o Brasil teve mais uma década perdida, com crescimento médio anual abaixo de 1%. O resultado disso pode ser visto nas ruas e avenidas das grandes cidades. Pelo menos 13 milhões de pessoas estão sem trabalho e 19 milhões mergulharam na miséria absoluta. Para reduzir as desigualdades sociais, o país precisa crescer acima de 3% ao ano por um longo período. Há tempos não se vê isso. Então, que os governantes desçam dos palanques e trabalhem efetivamente por tempos melhores.

Aqueles que ainda não se conscientizaram da trágica situação em que vivemos deveriam dar uma olhada nas filas dos restaurantes populares espalhados por várias capitais. Era enorme a quantidade de cidadãos em busca de um prato de comida no primeiro dia de 2022. Definitivamente, esse não é o Brasil que merecemos.