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Armas

O jornalista A. Garcia mostra-se exaltado com a compra de armas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Portaria Interministerial 1634/GM-MD relaciona o quantitativo mensal que autoriza a mesma aquisição aos diversos órgãos da República e às pessoas físicas. Vivemos em guerra, que não se combate com revólveres e fuzis. São guerras menos estrondosas: contra a fome, o abandono e as doenças. A despeito de ministros adversos aos fatos, temos que nos armar de paciência, de comiseração e de expectativas. Fazer gesto de arminha virou marca registrada deste (des) governo. Felizmente, o ano virou e estamos na torcida pelo completo adeus às armas.

Thelma B. Oliveira,

Asa Norte

Ambiguidades

Na evolução das proezas do Homo sapiens, a ciência é um bebê. A medicina tradicional, incluindo a chinesa, sempre parou nas boas intuições. Mas a ciência cresceu e só foi entendida ao casar a teoria com a prática: imagine suas ideias, porém nada feito sem confrontá-las sistematicamente com o mundo real. No século 19, surgiram avanços médicos apoiados em números. Foi verificado que, nas enfermarias onde lavavam as mãos, as fatalidades no parto eram menores. Na física, soltando-se um frasco de hidroxicloroquina de um terceiro andar, seja em Pisa, seja em Wuhan, ele leva o mesmo tempo para espatifar-se no solo. Por isso Galileu precisou de poucas observações para formular a lei dos corpos. Mas nas áreas sociais e na medicina tantas variáveis influenciam os resultados que as regularidades só se tornam visíveis nos grandes números. Daí o reinado da estatística inferências e da epidemiologia. Com os avanços metodológicos, tornou-se inaceitável prescrever um fármaco que não cumprisse um elaborado protocolo de testes. Análise de variância, randomização, grupos de controle são os mantras sagrados dessa nova ortodoxia. Lá pelos anos 1970, a medicina baseada em evidência vira credo oficial. Comissões de ética se enfurecem com falhas metodológicas de alguns testes. Mas a ciência sempre conviveu com informações incompletas e sujeita a erros. Tampouco aos cientistas não faltam crenças e preconceitos. Há controvérsias legítimas entre os profissionais da saúde. Há o uso oportunista dessas discrepâncias. Há também um vulcão de palpites desencontrados nas redes sociais. Como cidadãos, cabe-nos aprender a separar os fatos das ambiguidades malévolas.

Renato Mendes Prestes,

Águas Claras

O futuro do STF

Desde que Bolsonaro assumiu que suas redes sociais desenvolvem campanha virulenta contra o STF, pedindo inclusive impeachment de ministros. Mas uma breve análise mostra que isso não se volta contra todo o STF, o qual, para melhor compreensão, poderia ser dividido em dois: um que busca conter abusos e ameaças a pessoas e instituições e atua diante de omissões do governo, assegurando direitos e serviços essenciais à população. E o outro STF, composto por integrantes da 2ª Turma, que libera geral: anula e arquiva processos contra corruptos, liberta acusados e condenados por corrupção e cria dificuldades para o funcionamento da Lava Jato e de outras operações. É curioso como Bolsonaro, que foi eleito surfando o desgaste de políticos tradicionais, acusados de corrupção, não critica os ministros da 2ª Turma do STF que anularam e arquivaram processos de corruptos do PT, PMDB, PP etc. colocando todos eles, inclusive Lula, em liberdade. E tudo isso feito com o voto do ministro Cássio Marques, nomeado pelo presidente. Aliás, o primeiro voto de Cássio no STF foi permitir a posse de prefeitos eleitos, condenados pela Lei da Ficha Limpa. Alinhado com Gilmar Mendes e Lewandowski, Cássio compõe a maioria de 3x2 que garante, na Turma, essas liberações e que condenou Moro como juiz parcial contra Lula, levando à anulação das condenações obtidas pelo ex-juiz em Curitiba. A ira das redes sociais é contra os outros ministros, que botaram um freio nas fake news e nas ameaças de fraudar ou impedir as eleições e de dar um golpe de estado, culminando com a ação de 7 de setembro. É esse STF, que podemos chamar do bem, que é visado, por obrigar o governo a comprar vacinas e permitir que o combate à epidemia fosse feito também por estados, já que o presidente defendia a imunidade de rebanho pelo contágio, e não queria fazer nada: nem incentivar o uso de máscara e distanciamento social, nem aplicar vacinas, nem fazer testes em massa, o que até hoje não é feito. Esse grupo ainda é maioria. Vamos conhecer a postura do juiz André Mendonça. Se vai atuar como um religioso, como fazem os juízes muçulmanos, ou se comportará de fato como juiz, laico, imparcial e firme na defesa da República, da Constituição e dos cidadãos.

Ricardo Pires,

Asa Sul