Opinião

Construção civil busca soluções sustentáveis

PAULO SALVADOR - CEO da Modularis Offsite Building

Responsável por boa parte do impacto ambiental no mundo, a construção civil necessita de alternativas para inovar a cadeia produtiva de forma sustentável e perene. A construção off site tem muito a contribuir nesse salto. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a construção civil é responsável por 36% do consumo de energia, 38% de emissões de carbono relacionadas à energia e 50% do consumo de recursos naturais. E a perspectiva é que esses índices aumentem em 100% até 2060.

No Brasil, os dados não são muito distantes disso. O setor gera de 35% a 40% de todo o resíduo gerado nos grandes centros. A estimativa é de que as obras produzem anualmente perto de 400kg de entulho por habitante (quase igual ao de lixo urbano), sendo que a boa parte das sobras (tijolos, argamassa e outros) não são reciclados ou descartados adequadamente. Só a produção de cimento gera 8% a 9% de todo o gás carbônico (CO2) emitido por aqui.Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostra que 8% de tudo que é produzido em uma obra vira desperdício.

Panorama preocupante que requer atenção, mais que isso, nos pede atitude. A COP26, recém -realizada em Glasgow, na Escócia, acentuou o senso de urgência em relação à busca de soluções para as questões climáticas. Isso afeta todos os países e segmentos, e a pauta da sustentabilidade é prioridade universal.

Tendência mundial, a construção offsite — onde a produção ocorre em ambiente fabril e totalmente controlado — tem muito a contribuir nesse sentido. Construir de maneira sustentável supõe a utilização racional de matéria-prima, redução do consumo de energia ao mínimo possível, reciclagem dos materiais e reaproveitamento futuro do que é produzido. A industrialização da construção traz novas tecnologias, processos e têm permitido inserir os seculares canteiros de obras no ambiente disruptivo. A incorporação de métodos produtivos industriais, somados a softwares e ao uso do aço de maneira otimizada tornou realidade uma construção cada dia mais limpa.

A base dessa revolução começa por algumas frentes. Em primeiro lugar, toda modelagem dos projetos é feita dentro de um verdadeiro espelho digital do prédio que será construído que permite especificar o uso dos materiais locais de instalações elétricas e correções de patologias futuras (chamamos isso de gêmeos digitais). Em seguida, quem abraça a construção offsite precisa investir em tecnologia, pesquisas, desenvolvimento e na criação de parcerias que possam amparar a esteira produtiva. E, finalmente, os edifícios construídos dentro desse paradigma são concebidos de maneira a atingir a melhor eficiência energética possível não somente durante a construção mas também em todo seu ciclo de existência.

Além dos ganhos ambientais, uma construção off site de grandes proporções é entregue na metade do tempo e sem estouro de orçamento. E, com a redução de prazos, os empreendimentos para renda como hotéis e escolas melhoram a taxa interna de retorno. Menor tempo de produção, menor desperdício e melhor gestão de riscos e aproveitamento energético.

Toda essa versatilidade é atributo da construção off site. Na Europa, quando comparada aos sistemas tradicionais, essa produção apresenta redução de 70% de entulho, 50% de barulho e poeira e 20% de circulação de pessoa no canteiro. O fato é que estamos todos, políticos, empresários, executivos e cidadãos comuns, chamados a ter uma participação ativa no cuidado com o meio ambiente. Cada um em sua esfera de atuação precisa ser um agente de transformação e assumir posição ativa na construção de um mundo mais positivo para todos. Para nós, o futuro das construções limpas chegou.

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