Fado tropical
Infelizmente, não constitui novidade assinalar a ocorrência de vários vícios no processo de colonização do nosso país, sempre encobertos nos relatos oficiais, sobretudo quando utilizados no processo de educação escolar. Assim é que, após três séculos de regime colonial, o "brado retumbante da Independência" foi proferido por "um povo heroico", e "o sol da liberdade brilhou no céu da pátria nesse instante". Na dura realidade, porém, a independência nacional não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, bem ao contrário, de uma revolta do povo português contra a permanência do seu rei no Brasil. E "o penhor dessa igualdade" — certamente não entre cidadãos e escravos —, em vez de ser conquistado "com braço forte", foi pura e simplesmente comprado, mediante o módico pagamento a Sua Majestade D. João VI da quantia de dois milhões de libras esterlinas, montante de um empréstimo anteriormente dado a Portugal pela Inglaterra. O processo de colonização do Brasil por Portugal apresentou vários vícios congênitos, a saber: o predomínio do interesse privado sobre o bem público; o fato de o Brasil ter sido, no império português, a principal terra de degredo de criminosos; a corrupção generalizada dos funcionários públicos e dos agentes políticos; o patronato nas relações dos cidadãos com os governantes; tudo isso caracterizando um regime político oligárquico, formado pelo consórcio dos potentados econômicos privados com os principais agentes estatais, ficando o povo sempre à margem das grandes decisões. "Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal/Ainda vai tornar-se um imenso Portugal/Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal/Ainda vai tornar-se um império colonial" — alertam Chico Buarque e Ruy Guerra, em Fado tropical (1972-1973), sobre a formação irresponsável e aventureira da identidade nacional.
Marcos Fabrício Lopes da Silva,
Asa Norte
Tempo dos maduros
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro: sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, roeu o caroço. Já, não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa. Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial! Mário de Andrade.
Lauro A. C. Pinheiro,
Asa Sul
Selvageria
Tristeza, é o que sinto a respeito da selvageria praticada contra o imigrante africano que, fugindo da insegurança em que vivia em seu país, emigrou para o Brasil, e, aqui, encontrou a morte de modo cruel e desumano. Sinto-me imensamente envergonhada e revoltada com o comportamento indiferente e omisso daqueles que estavam presentes ou passavam pelo local e nada fizeram para impedir o massacre de um semelhante. Se o rapaz estava alterado, o que não acredito, porque não chamaram a polícia? Isto seria o certo. Nada justifica aquela reação monstruosa e feroz de alguns brasileiros perversos. Consternada e envergonhada, peço desculpas (se é que cabe) aos conterrâneos da vítima.
Josuelina Carneiro,
Asa Sul
Reconstrução
O Brasil precisa de lideranças que conduzam a sociedade (povo) a construir um país próspero, uma nação feliz, um Congresso em que seus membros (parlamentares) legislem e produzam leis claras e objetivas sem entrelinhas, um Judiciário em que seus membros (juízes) apliquem às leis conforme o escrito pelo legislador, e não interpretar a lei conforme sua conveniência e ou interesses pessoais escusos. Se a lei deixar margem para interpretações diversas, se faz necessário o legislador a reescrever com clareza tal, que não deixe espaço para entendimentos diversos, e que o povo assuma suas responsabilidades na construção deste país, e não um general, como querem alguns, pois não somos tropas a serem comandadas.
Gilvan da Silva Gadelha,
Ceilândia
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