Pela primeira vez desde o início da crise epidemiológica do novo coronavírus, o mundo vive a expectativa de que a pandemia pode estar próxima do fim, evoluindo para uma endemia, como ocorre com a gripe. A boa notícia vem da Europa, onde diversos países começam a suspender as restrições sanitárias contra a covid-19. O continente foi um dos primeiros a enfrentar uma explosão de casos de ômicron. Agora, estaria prestes a entrar "num longo período de tranquilidade", conforme declarações do diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a região, Hans Kluge. "É uma trégua que pode nos trazer uma paz duradoura", disse, na última quinta-feira.
Depois de o Brasil mostrar surpreendente resistência à variante delta, cuja letalidade mostrou-se muito mais implacável em diversas nações em estágio de imunização bem mais adiantado, esperava-se que a passagem da ômicron por aqui fosse igualmente avassaladora no que diz respeito ao alto número de contágios, mas não tanto em relação a mortes e à gravidade de casos.
Nesse quesito, vale lembrar que as elevadas taxas de internações em unidades de terapia intensiva no país também têm relação direta com o fechamento de UTIs em estados e municípios, possivelmente porque, diante das primeiras informações que circularam sobre o patógeno - altamente transmissível, mas de baixíssima letalidade -, gestores subestimaram os danos que a nova cepa poderia impor ao país e desativaram a maioria dos leitos.
Na Europa, a avaliação de Kluge é que a ômicron não se mostrou tão grave e letal porque no continente a população de boa parte dos países tomou a dose de reforço contra a covid-19. No Brasil, pouco mais de um quinto da população recebeu a injeção extra. Quanto se observa os dados sobre internações e óbitos no Brasil, a análise do diretor da OMS faz sentido. A maioria das mortes e de internados em UTI no território nacional (cerca de 90%) são de pessoas que não se vacinaram ou que tomaram apenas a primeira dose da vacina.
Nos últimos dias, no Brasil, tanto o número de infectados quanto o de pessoas que perderam a vida foram os mais elevados desde o início da avalanche de ômicron. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, o país não registrava mais de mil mortes em 24 horas desde agosto do ano passado. Ultrapassou a marca pela primeira vez na quinta-feira e repetiu o feito no dia seguinte. Quanto às infecções, as taxas registradas nessa última semana também foram as maiores desde o início da pandemia. Nesse caso, o contágio segue uma trajetória padrão em escala global.
Nos EUA, o cenário é ainda mais grave. No Brasil, o negacionismo e a escassez de vacinas impuseram e continuam a provocar interrupções na campanha de imunização. Como agora, no caso das crianças. Lá, apesar de haver vacina de sobra, a Casa Branca esbarra em problema ainda maior: a grande parcela da população que se recusa a tomar vacina e a respeitar medidas protetivas, como uso de máscaras. Resultado: o número de mortos e de internações de americanos voltou a bater recordes. Na sexta-feira, passaram de 800 mil mortes por covid-19 desde o início da pandemia. Já o Brasil superou os 630 mil óbitos.
Em meados de janeiro, especialistas estimaram que o Brasil deveria atingir o pico nas primeiras semanas de fevereiro. Se a explosão de casos no início deste mês for, de fato, a confirmação do prognóstico - e algumas capitais, como São Paulo, e estados, como o Rio de Janeiro - sinalizam para isso, a expectativa é que a onda da variante esteja perto de iniciar o processo de desaceleração no país. Enquanto o pesadelo não passa, o melhor a fazer é continuar protegendo-se com o uso de máscaras e com o distanciamento físico possível.
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