Artigo

Diplomacia

Correio Braziliense
postado em 06/02/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

SACHA CALMON - Advogado

O termo abarca em seu número de atividades exige diagnósticos precisos e medidas adequadas. Os países costumam dividir a diplomacia em três grupos temáticos: reunir os amigos, desunir os inimigos e ganhar posição de mando estratégicos. Alguns exemplos recentes ilustram nossos dizeres.

Em 72 horas, a Rússia retomou a península estratégica da Crimeia da Ucrânia, que adentra o Mar Negro, onde no lado exatamente oposto está a Turquia, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contrário à Rússia e seus históricos aliados, Bielo Rússia e Cazaquistão, que usam o Mar Negro para atingir o Oriente Médio, o canal de Suez e o índico, a saída de seus navios mercantes e militares para o Mar Mediterrâneo e, finalmente, o Atlântico Sul (Península Ibérica, Grécia, Balcans) e o Oriente Médio, onde tem bases na Síria. É de vital importância para ela.

Pois é, bastaram um "informe" do serviço secreto (1 minuto) e as 72 horas que se lhe seguiram. A Ucrânia perdeu a Crimeia tradicionalmente russa (90% dos habitantes), entre eles os tártaros da Criméia. No passado, foi entregue pelos russos, no tempo da União Soviética de Stalin, que aliás era da Geórgia (região do mar negro) à zeladoria da Ucrânia. Com o avanço da Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a possibilidade de entrar para Otan, a Rússia agiu rapidamente. Com o desfazimento da União Soviética e a manutenção de Kiew, um dos berços da Rússia na esfera política desta última, a Crimeia ficou com a Ucrânia. O namoro com a CEE atrapalhou.

A virada ao ocidente para "participar da União Europeia", tipo de canto das sereias, fez a situação mudar da água para o vinho. O resultado todo mundo soube. A Ucrânia perdeu a Crimeia em 72 horas juntamente com a sua soberania. Esperneou à vontade. Hoje, está convencida de que errou, foi usada. Em política internacional vale o cálculo e a experiência secular. Ninguém mais se interessou.

O mesmo ocorreu com o Tibet, alvo de uma campanha mundial de endossamento de sua religião e de sua independência. Em uma semana, a China a ocupou militarmente. Construiu uma estrada de ferro facilitando-a à China e enviou cem mil pessoas para trabalhar no campo, fábricas e hotéis na região junto com suas mulheres, e ordenou ao Dalai Lama que aceitasse a situação. Hoje, ninguém fala mais dele, o Dalai Lama. Não há mais interesse.

O acidente estava usando-o em palestras e conferências e de nada lhe rendeu a sua propalada sabedoria. Em suas meditações não lhe ocorreu que o Tibet pertencia à China desde há 3 mil anos e que Pequim jamais aceitaria o ocidente no topo do mundo, com um Dalai Lama pró-ocidental ao invés de neutro como sempre foi.

A guerra — já disse um sábio — é a diplomacia por outros meios, outra dimensão, igual a falar mal do rival (fake news), mas comum do que se pensa. O racismo americano, por exemplo, é um horror tremendo na África e Ásia, quando não nos Andes e aqui na América do Sul Atlântica. Entretanto, a diplomacia mais em voga hoje é a comercial, nula no governo Bolsonaro, preocupado com "ideologia" e um medo medonho do Lula. Talvez se candidate a senador...

O Brasil sempre foi elogiado pela sua democracia, tanto que lhe cabe abrir os trabalhos da Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto, no governo que está a findar-se, viramos párias.

Ao Brasil cabe integrar as nações andinas de fala espanhola com acesso de estradas que cheguem aos Andes, e revigorar o tratado do Mercosul, completamente abandonado, aglutinando a américa do sul.

São vizinhos próximos com culturas hispânicas e indígenas capazes de ser assimiladas pelo poder concentracionário do Brasil. Entretanto, nada fizemos!

É estultice afrontar a China, de longe a maior compradora e, pois, sustentáculo do nosso agronegócio. Deveríamos ter organizado caravanas de empresários à China e celebrado tratados. Nada disso ocorreu, muito pelo contrário. Não é apenas inabilidade política mais ignorância.

Descabe a qualquer presidente opinar sobre as eleições argentinas ou norte-americanas. Pois não é que fizemos isso em prol dos derrotados? Foi nesse governo. Ao invés de integração comercial, fizemos discursos ideológicos vazios e nos isolamos.

A nossa política externa deve ser revisada. Chegamos a ser removidos da posição de primeiro parceiro comercial da Argentina, pela China, a meio mundo de distância. Bolsonaro anunciando que vai à Rússia é uma boa iniciativa comercial. Isso tão logo acabe a crise com a Ucrânia. No particular a China já se declarou aliado da Rússia e de suas precauções de se não ser rodeada por nações hostis. A Rússia de resto é provedora de gás e petróleo a Europa Oriental Ocidental através de oleodutos e gasodutos, o que incomoda os EUA. A Alemanha e a principal compradora. Biden tem se queixado desse fato que prejudica as companhias do ocidente que trazem petróleo do oriente médio.

 

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