» Sr. Redator

Correio Braziliense
postado em 14/02/2022 00:01

Novos bairros

O governo do DF anuncia a criação de 18 bairros em Brasília. Será bom para os quase 62 mil moradores que terão acesso a lotes e a novas moradias, mas será prejudicial para o urbanismo ambiental. Haverá maior superfície com asfalto e terrenos edificados, com enorme superfície impermeabilizada. O DF urbanizará quase 400 mil hectares, onde o cerrado terá milhões de árvores cortadas e muitas nascentes serão destruídas. De fato, há outras possibilidades que suprem a falta de moradias. Observar a possibilidade de verticalizar os núcleos urbanos existentes ou agregar novos terrenos aos bairros antigos. Como geógrafo urbanista e preocupado com a natureza — considerada meio ambiente —, não vejo vantagem em aumentar a superfície com asfalto e cimento e grande espaço edificado. Por isso, será plausível rever essa solução para possibilitar novas moradias sem agredir o meio ambiente como referido.

Aldo Paviani,

Lago Sul

Combustíveis

Pode dar errado a ideia de criar um fundo para compensar altas do petróleo, quando provocadas pela oscilações no mercado internacional. A intenção, evidentemente, é boa: tentar evitar o impacto no bolso dos consumidores. Mas a medida pode acarretar muitos outros problemas. Sua implementação exigiria o uso de dinheiro público, que poderia ser mais bem aplicado em educação, saúde e segurança, tanto mais se levada em conta a atual escassez aguda de recursos. Ademais, a ideia contradiz a posição oficial em prol da extinção de fundos. O governo precisa, pois, ter cuidado no exame da matéria. Como é habitual em assuntos que envolvem o setor público, o diabo mora nos detalhes. Como fazer? Propostas estapafúrdias aparecem nesses momentos, como a de reduzir o ICMS sobre o preço dos combustíveis. Além da impropriedade de usar tributos sobre o consumo com tal finalidade, a medida agravará a crítica situação dos estados e municípios, os donos do ICMS. Mais grave ainda será neutralizar o papel fundamental do sistema de preços em uma economia de mercado como a brasileira. Ao emitirem sinais aos agentes econômicos, os preços contribuem para organizar a atividade na área, coordenando decisões de consumidores e produtores. O consumo de um bem costuma diminuir quando seu preço aumenta. Com a atuação do fundo, o preço emitiria sinais errados aos consumidores, induzindo-os a manter o ritmo de consumo de um bem que ficou mais caro para o país. O fundo pode servir apenas para casos de volatilidade excessiva do preço dos combustíveis, que é ruim para a economia. O governo pode extrair lições das intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio. Quando o dólar sobe, o BC age apenas para reduzir a excessiva volatilidade, nunca para interferir no preço natural da moeda. Nada a ver com a complexidade que caracteriza a operação de fundo para intervir no preço dos combustíveis. Por tudo isso, o governo faria bem se desistisse da ideia, a qual, de resto, provavelmente não tem paralelo em outros países.

Renato Mendes Prestes,

Águas Claras

Eduardo e Mônica

Uma crônica musical romântica sobre a juventude. Jovens apaixonados com problemas de interação têm caráter universal. São coisas feitas pelo coração. Com razão. Mas quem reside em Brasília há bastante tempo traduzirá melhor o filme Eduardo e Mônica, porque há referências de identificação. Salienta a juventude da classe média brasiliense dos anos 1980 inserida na aprazível ambientação da cidade idealizada por Oscar Niemeyer e Lucio Costa, como os cubos decorativos externos do Teatro Nacional, o amplo Parque da Cidade, a Biblioteca da UnB, o ponto de ônibus de alvenaria, as avenidas largas e gramadas, e até o insípido Setor Militar Urbano. A fita descortina o desbunde das festas em boates, sem compromisso com a ressaca, distante do burocratismo estatal da Esplanada dos Ministérios. A predileção de Mônica por Godard, Bandeira, Bauhaus, Van Gog, Caetano, Mutantes, o idioma alemão, Renato Russo revela seu cabedal cultural adquirido na leitura de livros e na vivência do agito cultural da Brasília de então. Pela cabeça do espectador começa a desenrolar um filme traçando o roteiro da ebulição daquele período: Exposições de artes na Galeria Oscar Seraphico; filmes no Cine Brasília, Cultura Inglesa, Karim da 110 Sul, Itapuã no Gama...; Os filmes de Vladimir Carvalho e do bombeiro Afonso Brazza; Palestras na UnB; a revista Bric A Brac e a anarquista Víbora; a representação do cast nacional no Teatro Nacional, e a dos alternativos no Rola Pedra, em Taguatinga. A trilha sonora de Eduardo e Mônica nos remete ao Liga Tripa, Renato Matos, Concerto Cabeças, às noitadas no Beirute e no Bom Demais e bares da Asa Sul compondo o roteiro dos lançamentos dos livros da geração do mimeógrafo/poesia marginal. Da geração coca-cola à militância sindical, Brasília se agitou com o enfumaçado Rockonha e a revolta no badernaço. Uma cena de afeição é revelada. O interesse de se estudar na UnB e ver seu nome, na lista dos aprovados, publicado nas páginas do Correio Braziliense. Até hoje guardo a minha. Grifada. O diretor e os roteiristas de Eduardo e Mônica despertaram no telespectador oitentista esse delineio radiante de Renato Russo sobre aquela Brasília que se dizia fria e sem esquina. Ainda há quem insista nesse pensamento.

Eduardo Pereira,

Jardim Botânico

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags