atentados terroristas

Visto, lido e ouvido: Voar é para quem possui couro grosso

Circe Cunha
postado em 16/02/2022 06:00
 (crédito: ROBERTO SCHMIDT / AFP)
(crédito: ROBERTO SCHMIDT / AFP)

São flagrantes as mudanças ocorridas nos aeroportos de todo o mundo, depois dos atentados terroristas contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, ocorridas há mais de duas décadas. De lá para cá, os aeroportos, inclusive no Brasil, ganharam um novo modelo de vigilância e controle, passando a ser considerados como zonas de segurança máxima, vigiados 24 horas por dia, tanto por pessoal especializado quanto por um imenso conjunto de monitoramento eletrônico. (Mesmo assim, até hoje, do roubo de 734kg de ouro no aeroporto de Guarulhos, em julho de 2019, nenhum grama foi recuperado, e ninguém sabe, ao certo, para onde foi essa carga.)

Por Falar em história da aviação e, principalmente, dos aeroportos civis, é preciso, antes, separar em dois momentos distintos todo o modelo aeroportuário de operação. Depois de uma série de atentados perpetrada por extremistas, que deixou grande número de vítimas, uma razão maior teria, necessariamente, que provocar uma transformação radical no modo de viajar por aviões.

O que é flagrante também é observar que toda essa mudança, feita em nome de uma segurança máxima, veio muito em desfavor do passageiro, que passou, até prova em contrário, a ser considerado como viajante e suspeito, sujeito a todo tipo não só de molestação, como de admoestação por parte do pessoal do aeroporto. Portanto, não são raros os momentos de graves conflitos dentro dos aeroportos e também das aeronaves.

Praticamente todos os dias, a imprensa noticia problemas envolvendo passageiros contra o pessoal de terra e contra tripulantes. O que parece haver, à primeira vista, é um embate entre a perda irreversível de humanização no tratamento das pessoas, tanto nos aeroportos quanto no atendimento dentro dos aviões. Não seria exagero afirmar que viajar hoje de avião pelo país como para o exterior, com ou sem conexões, ao contrário do que acontecia no passado, passou a ser um exercício de grande frustração e de muito estresse.

Há até quem considere um perigo enfrentar essas jornadas. A perda de relações humanizadas, por causa da paranoia que tomou conta dos aeroportos, é, sem dúvida alguma, o resultado mais nefasto herdado depois dos atentados de 2001. O mais incrível é que toda essa visível deterioração nas relações entre passageiros e o pessoal de terra e ar parece afetar apenas os primeiros, mantendo-se o pessoal dos aeroportos e das tripulações insensíveis e indiferentes ao que ocorre.

Não se pode negar que há, hoje, uma animosidade crescente entre passageiros e os serviços prestados nos aeroportos e dentro dos aviões. A camaradagem, a admiração e o glamour que havia por parte da população em relação aos aeroportuários não mais existem, sendo substituídos por uma desconfiança mútua e até um certo antagonismo.

É preciso lembrar que os atentados atingiram muito mais os passageiros e a população civil do que o pessoal de terra e ar. Não se compreende, pois, que sendo as principais vítimas nos múltiplos atentados, os passageiros, aqui e em todo o mundo, continuam sendo maltratados nos aeroportos e dentro dos aviões, com serviços de qualidade duvidosa, ofertados por preços altíssimos.

No nosso caso, particularmente, não causa espanto que as concessionárias nacionais que administram os aeroportos do país e mesmo as empresas aéreas que operam no Brasil representem setores de nossa economia com os piores índices de aprovação por parte dos consumidores. Voar, hoje, deixou de ser um prazer para se constituir numa necessidade. A continuar por esse caminho torto, chegará o dia em que os passageiros serão obrigados a ser transportados dentro de malas, sem contato direto com os profissionais da aviação.

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