Apesar de a pandemia ainda estar num nível ameaçador — principalmente por causa da ômicron, a variante mais transmissível do novo coronavírus —, é uma excelente notícia a volta às aulas de forma 100% presencial na quase totalidade do país, após praticamente dois anos de ensino remoto ou, no caso de um sem-número de alunos, nem isso.
Para os estudantes em situação de severa pobreza, esse retorno é ainda mais importante. E nem me refiro ao fato de a educação ser um instrumento capaz de permitir que, no futuro, eles consigam romper o ciclo de miséria em que vivem. Falo de algo mais imediato: a luta contra a fome.
É na escola que muitas crianças conseguem a única refeição robusta do dia. Por isso, antes da pandemia, a agonia de pais ou responsáveis eram as férias: sem colégio, sem merenda. Com a crise sanitária então, foi o pesadelo total.
O panorama no Brasil é dramático. Há, ao menos, 19 milhões de pessoas que não têm o que comer. O país, inclusive, retornou ao Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Entre os fatores que contribuíram para a calamidade está o desemprego. O cenário atual é de mais de 12 milhões de brasileiros sem trabalho.
A escola tem outro caráter essencial e urgente: integra a rede de proteção de crianças e adolescentes contra a violência, uma chaga que independe da classe social. Os estabelecimentos de ensino são um fundamental canal de denúncia de abusos físicos, psicológicos e sexuais, seja porque as vítimas se sentem mais seguras para revelar seu sofrimento, seja porque professores, pelo convívio diário, podem perceber vestígios de que algo está errado. Hoje, os profissionais de educação recebem muito mais informações e orientações sobre como detectar a violência — uma marca física, uma mudança de comportamento do aluno, por exemplo.
Afastados das salas de aula durante as medidas restritivas, meninos e meninas perderam esse meio de pedir socorro. Ficaram confinados com seus algozes, vulneráveis às mais diversas agressões. Agora, a porta para a ajuda se abre novamente.
A retomada será de muitos desafios, entre outros, por causa das perdas pedagógicas, do desnivelamento dos alunos, dos impactos psíquicos provocados pela pandemia — com o período de distanciamento social e até a morte de familiares causada pela doença. Há, evidentemente, um longo tempo de recuperação pela frente, mas a escola voltar à rotina de crianças e adolescentes já atende às necessidades mais urgentes.
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