Por Carlos Alberto dos Santos Cruz - General da reserva do Exército Brasileiro
Ao longo da história, o Brasil cultivou muitas virtudes e, também, graves defeitos. Entre estes, desigualdade social, privilégios, corrupção e impunidade. Eles estão entranhados na cultura e nas instituições. Os privilegiados e os corruptos sempre querem que tenhamos o foco em outra direção, para que nossa observação seja desviada para outros problemas, em geral criados ou agravados por eles mesmos.
É importante avaliar o impacto da corrupção, da impunidade e dos privilégios para o agravamento da pobreza, da fome, do desemprego, da educação, da saúde etc.
Não faz muito tempo, a sociedade pensou que iria haver mudanças. No mínimo a inibição do crime organizado no desvio de dinheiro público, quando pessoas consideradas importantes, com status político, riqueza e influência social foram investigadas, julgadas, condenadas e iniciaram o cumprimento de penas em consequência de seus crimes. O Brasil viveu uma onda de esperança quando acreditou que era possível vencer esses cânceres brasileiros - a corrupção, a impunidade e os privilégios.
Essa esperança inundou o Brasil e teve reflexos no mundo por causa do Judiciário, do Ministério Público, da imprensa e do apoio popular. A personificação das ações se concentrou no então juiz Sérgio Moro e alguns procuradores e investigadores, que continuam sendo exemplo de coragem e esperança para o Brasil.
O atual presidente surfou no tema do combate à corrupção, na Lava Jato e no ex-juiz Sergio Moro. Mas a frustração veio rápido. O ativismo político e o "conservadorismo" reagiram. O presidente eleito é mais um estelionatário eleitoral. No linguajar mais popular, um "traíra" do seu próprio discurso, das promessas de campanha, da expectativa dos eleitores.
Existem pessoas que, acostumadas a desfrutar dos privilégios e do acesso aos recursos públicos, têm receio de Sergio Moro. Receio do que? Da transparência, da publicidade dos atos políticos e administrativos, da responsabilidade fiscal e financeira, e da liberdade de imprensa? Esse receio, reforçado pelo ativismo político, é responsável pela reação ao pré-candidato Sérgio Moro.
Esse receio une extremistas de esquerda e de direita (sem qualquer crítica àqueles que são de direita e esquerda e não são extremistas). A alegação de que Sérgio Moro não tem experiência é mais uma mentira ao povo brasileiro, pois praticamente todas as falcatruas de conhecimento público foram feitas por gente considerada experiente na política.
A frustração de 2018 e a armadilha de 2022
Em 2018 não houve debate qualitativo e o Brasil caiu em mais uma vigarice eleitoral. O Brasil foi traído. Agora, em 2022, a armadilha é colocar o Brasil entre dois candidatos populistas. Um, ex-presidente que já governou por dois mandatos, elegeu a sucessora e deu no que deu. Desnecessário relembrar os motivos do desgaste, a demagogia socialista, os adeptos de um comunismo anacrônico, os escândalos financeiros, os assaltos aos fundos de pensão etc. O ex-presidente reaparece no cenário político, acompanhado de algumas figuras conhecidas por sua participação na política e na administração pública.
Do outro lado, o atual presidente, visivelmente despreparado, fanfarrão, irresponsável, apoiado por uma indústria de fake news, tentando de toda forma desacreditar a imprensa para que o povo acredite na fábrica de mentiras produzida por uma milícia digital que tenta manipular cada vez mais a opinião pública.
O Brasil não pode seguir os passos do que de pior foi praticado em todos os sistemas totalitários: a) a divisão da sociedade; b) a manipulação da opinião pública; c) o culto à personalidade, a demagogia e o populismo; d) a falta de transparência dos gastos públicos e) a busca do salvador da pátria; f) o assassinato de reputações; e g) a polarização pura e simples, com a falta de discussões de ideias. Isso sem entrar em considerações de aparelhamento de instituições.
Nenhum governo pode desrespeitar a população ao ponto de fabricar uma cena digna do "Oscar" de ator e diretor mais medíocres no cenário político, representando um porcalhão comendo farofa. Essa imagem grotesca corre o mundo, mas isso não é o Brasil e nem os brasileiros. Só uma imaginação doentia para conceber cena tão idiota.
O povo brasileiro não pode continuar acreditando em salvadores da pátria, ser vítima do populismo, ser manipulado por fake news fabricadas por bandidinhos de internet.
Os males e os problemas políticos, culturais, administrativos, os vícios e defeitos da nossa sociedade precisam ser tratados por pessoas razoáveis, equilibradas e não por um bando de desqualificados, de interesseiros profissionais, de viciados em dinheiro público.
A prioridade do Brasil é o combate à pobreza. Para isso, o país precisa de políticas públicas sem populismo eleitoral para a compra de votos e de apoio político, jogando a conta no CPF Brasil por anos à frente. Se em 2018, o sentimento anti-PT, criado em grande parte pelo próprio PT, serviu como apoio à eleição do atual presidente, agora a situação é inversa: a desqualificação para o cargo e a permanente compulsão de dizer e fazer besteiras fazem do presidente Bolsonaro o grande cabo eleitoral do ex-presidente Lula.
O Brasil precisa se unir para quebrar essa polarização, para ter um ambiente honesto e civilizado, combater a pobreza e a desigualdade social, reativar a economia, prover serviço público de qualidade (como educação, saúde e segurança pública). Nessa luta, três medidas são fundamentais: acabar com a reeleição, extinguir o foro privilegiado e fazer esforços para aprovação da prisão em segunda instância. Isso tem que ser compromisso e precisa ser cobrado de modo contundente pelo povo já nas urnas e também posteriormente à eleição.
O Brasil não pode ficar preso nessa armadilha! O Brasil não pode regredir institucionalmente!
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