Dizia, com toda a razão, o filósofo de Mondubim: "O mesmo risco que corre a árvore, corre o lenhador". Aplicando o aforismo ao que parece ocorrer hoje no Brasil, mais precisamente quanto ao papel constitucional das Forças Armadas na estabilidade política e social do país, vis-à-vis o alinhamento ideológico dessa instituição a governos que vão e vêm ao sabor das eleições.
Há, no ar, um risco de que a gigantesca árvore, representada pelo Estado Democrático de Direito, tombe sobre a cabeça dos cidadãos, levando o país, de roldão, de volta a março de 1964. Não é fora de propósito lembrar que tanto Lula como Bolsonaro, por diversas vezes, e até de modo velado, já deixaram entender que anseiam pelo apoio irrestrito das FAs às suas pretensões políticas.
É sabido que as Forças Armadas estão, como reza a Carta de 1988, sob autoridade suprema do presidente da República. E é nesse ponto que se apegam esses extremos da política para fazer valer seus pontos de vista. Os ensinamentos da Venezuela estão bem aí, nas bordas de nossa fronteira, para servir como alerta da possibilidade dessa abdução do poderio militar em proveito de governos sejam quais forem.
Lá, as FAs foram totalmente aparelhadas para servir de suporte, como guardiãs de um governo condenado por todo o mundo civilizado, levando à ruína total daquele que já foi um dos mais prósperos países de nosso continente. Lula e seu ideólogo de algibeira, José Dirceu, já declararam à imprensa que um dos maiores erros do seu governo foi não ter cooptado, para seu entorno, o grosso das Forças Armadas, a exemplo do que fez o presidente Maduro, da Venezuela, onde até uma força paramilitar foi organizada para eliminar a oposição.
A possibilidade do atual ministro da Defesa Braga Neto vir a compor a chapa de Bolsonaro como vice, além da instalação de diversos militares em postos chaves do Estado, são sinais, dizem os observadores, de que há, em andamento, um lento e progressivo aparelhamento do governo, com vistas a assegurar que, no caso de reeleição, haja uma atração ainda maior das FAs para a órbita do Executivo.
Em reportagem intitulada Reação ao uso político das Forças Armadas, publicada neste jornal, de autoria de Cristiane Noberto e Rafhael Felice, o general Santos Cruz diz, textualmente, que Bolsonaro vem fazendo uso político e exploração das Forças Armadas. Santos Cruz, um militar respeitado por seus pares e que conhece por dentro o funcionamento e o espírito das FAs, não se intimida em afirmar que o atual governo tem como estratégia pessoal cooptar os militares, tanto para a sua base eleitoral como para seus propósitos.
O fato é que as FAs correm, nas eleições deste ano, o risco de virem a cair na cantilena tanto da esquerda como da direita. Caberá à população, que a tudo assiste, equilibrar-se entre esses dois abismos, caso o que reza a Constituição venha a ser transformado em letra morta. Por certo, tanto a direita como a esquerda, nessa altura dos acontecimentos, já se certificaram que a perpetuação no poder passa primeiro pela captação das Forças Armadas.
O que não se pode negar é que existe, hoje, entre o oficialato das FAs, simpatizantes de um lado e de outro. Mais do nunca, os brasileiros devem torcer para que os caminhos constitucionais prevaleçam sobre a vontade de governos. Eles passam, a gente fica.
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