GUERRA NA UCRÂNIA

Visto, lido e ouvido: O texto-bomba

Circe Cunha
postado em 25/02/2022 06:00
 (crédito:  ESTADÃO CONTEÚDO)
(crédito: ESTADÃO CONTEÚDO)

Em meio às bombas que começaram a cair, na madrugada de ontem, sobre a cabeça dos civis na Ucrânia, forçando milhares de idosos, mulheres e crianças a fugirem às pressas das principais cidades daquele país, no que poderá se constituir no mais novo flagelo humano da atualidade, nossos lépidos parlamentares cuidaram, logo na calada da noite, de lançar sobre a população brasileira o texto-bomba do projeto que legaliza os jogos de azar em todo o país, com a volta dos bingos e dos cassinos.

Por 246 votos a favor e 202 contra, o chamado texto-base passou na Câmara, abrindo a porteira para a consolidação não só dos cassinos, mas do jogo do bicho e dos jogos on-line. A urgência pedida para a apreciação dessa matéria e o empenho das principais lideranças dentro da Câmara para a aprovação da medida explicitam os muitos interesses que estão por trás desse projeto.

Caso seja aprovada pelo Senado, a lei liberando geral a jogatina cairá como uma verdadeira bomba sobre a cabeça da nação, pois, entre outras consequências imediatas, criará uma espécie de banco especial para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e de armas, além, obviamente, de uma excelente lavanderia para o branqueamento dos recursos desviados pela corrupção.

Muito mais importante do que programas sérios nas áreas de educação e saúde para a população. Iniciativas que poderiam favorecer a sociedade, como o fim do foro privilegiado para todos, ou a prisão em segunda instância, ou mesmo o endurecimento das leis de Improbidade Administrativa e da Ficha Limpa, não são mencionadas como prioridades. Pelo contrário, são afrouxadas para facilitar os atos costumeiros contra o erário. Os brasileiros de bem sabem o que se esconde nas entrelinhas de medidas dessa natureza, que visam apenas ao favorecimento daqueles que sempre viveram à sombra do trabalho alheio, quer na contravenção, quer no crime organizado propriamente ditos, quer em acordos políticos sempre buscando ganhos escusos e o favorecimento para si e para seus grupos.

A aprovação dessa proposta é claro retrocesso e sinal preocupante a mostrar que o crime organizado, por meio do lançamento de candidaturas próprias, vai, pouco a pouco, se infiltrando nas instituições do Estado. A liberação da jogatina é só uma forma de aplainar os caminhos para a entrada dessas organizações nas entranhas da máquina do Estado, de onde jamais sairão.

Não há qualquer ilusão sobre o fato de que cassinos, casas de bingos e outras modalidades de jogos de azar, ao favorecer apenas os donos desses estabelecimentos, ou os testas de ferro das organizações criminosas, não trará benefício algum ao cidadão brasileiro. Pelo contrário, transformará nosso país, campeão mundial na modalidade de violência urbana, em um paraíso tropical para a lavagem de dinheiro de nossos criminosos, com ou sem colarinho branco, e das muitas máfias internacionais que buscam aplicar e branquear os ganhos astronômicos com todo e qualquer tipo de crime, inclusive o tráfico de órgãos humanos.

Putin não precisa enviar tropas para invadir e destruir o Brasil. Nossos representantes políticos são muito mais eficazes e mortais.

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