Ucrânia

Artigo: 'A insensatez, sempre ela'

Guerra não tem razão de ser, nunca terá. Guerra tem morte de inocentes, disputa por poder, ausência de humanidade

Ana Dubeux
postado em 27/02/2022 06:00
Um membro do serviço ucraniano patrulha a estrada vazia no lado oeste da capital ucraniana de Kiev na manhã de 26 de fevereiro de 2022 -  (crédito: Daniel Leal/AFP)
Um membro do serviço ucraniano patrulha a estrada vazia no lado oeste da capital ucraniana de Kiev na manhã de 26 de fevereiro de 2022 - (crédito: Daniel Leal/AFP)

Não sou uma especialista, a ponto de descrever com propriedade sobre as causas e os contextos históricos que levaram a Rússia a invadir a Ucrânia. Falo e escrevo de onde vim e ainda estou: da vida presente e cotidiana, permeada pelos valores que me compõem, como o amor ao próximo e o bom senso. E, desse lugar, é que consigo observar e tirar conclusões.

Por mais que possa aprender e estudar sobre conflitos armados e sanguinários, nunca irei compreender razões para se atentar contra a vida de outrem com tamanha violência. Guerra não tem razão de ser, nunca terá. Guerra tem morte de inocentes, disputa por poder, ausência de humanidade. Guerra é, antes de tudo, um movimento guiado pela insensatez.

Ninguém, pelo cargo que ocupa ou posição estratégica, tem o direito de invadir pessoas — sim, pessoas. Pessoas são territórios, são casas seguras, onde habitam famílias e afetos, histórias, memórias, talentos, trabalhos, credos e medos. Uma guerra é uma força descomunal que viola pessoas, derruba todo tipo de parede e barreira de proteção.

Forçar pessoas a deixar casa, país, vida e história para trás é destiná-las a passar o resto da vida buscando uma sensação de segurança que jamais irão encontrar novamente. Serão para sempre refugiados na incerteza, no medo, na saudade. Não há justificativa que dê conta de todo o vazio que fica. Não há reconstrução para os escombros de um ser humano traumatizado. O luto por essas perdas será para sempre.

Nem saímos de uma pandemia que matou mais de 5 milhões de seres humanos no planeta e seguimos guiados por líderes estúpidos, que consideram legítimo impor à humanidade a pena descomunal de uma guerra. Sabemos já que nada será como sonhamos ou planejamos e que só podemos confiar verdadeiramente na nossa capacidade de resistir, apesar de tantos pesares. Não precisávamos de mais um massacre.

Lembrei-me da música Sonho Impossível: "Quantas guerras terei de vencer por um pouco de paz?". Quantas teremos ainda pela frente? Quantos conflitos, mortes inocentes, fugas sem destino certo, cenas de desespero teremos de presenciar? A guerra é uma tristeza que gruda na alma, uma ruína humana que impõe a necessidade de reconstrução a muitas gerações.

Já conversou com órfãos de uma guerra? A dor deles é para sempre. A nossa dor será também para sempre. Somos um só planeta; a Rússia e a Ucrânia não estão tão distantes assim; as consequências econômicas e humanitárias atingirão a todos. Disso, não há dúvida.

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