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Educação: uma ferramenta crucial para o agro do século 21

Manuel Otero - Diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA)

A educação é um bem público essencial. Sem uma formação de qualidade, inclusiva e equitativa, os países não vão romper o ciclo de pobreza que deixa para trás milhões de meninos e meninas, jovens e adultos.

Essa certeza cobra ainda mais relevância diante do impacto da crise da covid-19. Os países precisam recuperar suas economias e superar as graves consequências causadas pela pandemia. A educação é chave para isso.

Um espaço de atuação inadiável dessa agenda é a agricultura, os territórios rurais e a sua integração com os centros urbanos. A materialização de seu potencial requer inovação e tecnologia para acionar círculos virtuosos de crescimento econômico, geração de emprego e redução do abismo social.

Na América Latina e no Caribe, a agricultura é uma atividade central e uma das poucas que se mantiveram ativas desde o surgimento da covid-19. Nos próximos anos, dará outro salto qualitativo incorporando as vantagens da digitalização e outros avanços tecnológicos.

Trata-se de uma mudança inexorável que requer a formação de novas capacidades, pois a digitalização da agricultura pode contribuir para aumentar a oferta e a qualidade dos alimentos no âmbito de uma relação harmônica com o meio ambiente.

Para acompanhar esses processos, será necessário que a população rural e as novas gerações tenham acesso a uma formação adequada, que permita capitalizar os benefícios da "quarta revolução industrial" nos processos transformadores da agroindústria.

Não é a tecnologia por si que pode proporcionar essas mudanças, mas o talento humano e as organizações, devidamente empoderadas, que permitem desenvolvê-las. Por isso, uma vez instalada a agenda da digitalização na atividade rural, é necessário dar um passo adiante para que a educação permita que a população rural assuma um papel de protagonista.

Nos últimos anos, por meio de esforços conjuntos, organismos internacionais como o Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e seus aliados no setor privado, como a Microsoft, alertaram sobre a urgência de resolver problemas de conectividade rural e de desenvolver habilidades digitais.

Há uma diferença de 34 pontos percentuais no acesso à conectividade entre as áreas urbanas e rurais nos territórios latino americanos e caribenhos e limitações no desenvolvimento das habilidades digitais nas zonas rurais, onde apenas 17,1% contam com aptidões digitais específicas.

Além disso, apenas 33% das escolas da América Latina têm disponibilidade de banda larga ou velocidade de internet considerada suficiente. No caso das áreas rurais, oito de dez países, menos de 15% das escolas, contam com essas condições.

A pandemia afetou principalmente a educação, com o fechamento de escolas e a evasão escolar. Segundo a Unesco, 3,1 milhões de jovens, meninos e meninas, foram excluídos da educação em nossa região. Este panorama permite enumerar os desafios que uma agenda para a educação precisa enfrentar.

É prioridade nos alinharmos às demandas do futuro e melhorar o desenvolvimento da educação agrotécnica, modernizando as instituições educativas no âmbito rural para formar recursos qualificados entre a população jovem, favorecendo as raízes, os vínculos com os setores produtivos e o desenvolvimento integrador e inclusivo dos territórios e de sua população.

Temos que formar os líderes que vão transformar nossos sistemas agroalimentares. Para isso, oferecer as melhores oportunidades por meio de uma formação de excelência nas escolas agrotécnicas deve ser prioridade.

Esse é o caminho para assentar as bases de uma nova ruralidade: melhor educação, conectividade plena e uma população preparada para o uso intensivo e inteligente das novas tecnologias, para consolidar os territórios como zonas de oportunidades e motores do desenvolvimento econômico.